quinta-feira, 17 de dezembro de 2009

Ensaio sobre o amigo secreto que também é outro ensaio.




Até agora já são cinco.
Cinco.
Ciiiiiiiiiiinco confraternizações.
Isso mesmo.
Estamos na metade do mês de dezembro, e
Eu já tenho cinco festas de confraternização,
Cinco amigos secretos, e
Cinco frutinhas cristalizadas engasgadas na minha garganta...

-Gasp, gasp, gasp!

Todo final de ano é a mesma coisa...

Tá.
Eu vou revelar aos senhores:
-Eutenhomedodoamigosecreto..

HÃ?

Er..
Eu te-nho me-do do amiiiiigo secretooo.......

Não, senhores. Não é porque existe aquele filminho de suspense boboca chamado “O Amigo Oculto” que eu, por hora, cultivo este medo do amigo secreto.
Meu time code nessa historinha é mais longo. Muito mais.

Na verdade, eu tenho um, assim, certo receio de toda festinha que já é por si só muito montada. Onde os risos, as palmas e até os “Êêêêê” não são espontâneos.
E o amigo secreto é material adicional deste pacote.

Tenho sempre a impressão de que as festas de final de ano se tornaram as mais artificiais de todo o calendário. Tornam o ato de confraternizar uma coisa tediosa, enfadonha, previsível e, o pior de tudo, o-bri-ga-tó-ria.

Parece que todo círculo social que se preza deve se confraternizar... E, nesse sentido, quem não se confraterniza se despreza.

É legal que se tenha uma data do ano em que todos os amigos e colegas de trabalho possam se reunir sem a tensão do ambiente de trabalho. Porém, eu disse “se”.

Não temos essa data.

Por se tornar uma festa subjetivamente obrigatória, transferimos de alguma forma a tensão das relações do dia a dia para as confraternizações.
Ir a uma confraternização é um ato político.
Mesmo que você não perceba, está fazendo po-lí-ti-ca. Exercendo muito mais o seu papel social (para não ser taxado do “esquisitão anti-social do 2º andar”) do que o seu lado festivo-natalino.

Ainda nesta semana, uma garota com a farda das lojas Esposende sentou ao meu lado no ônibus, e falando com uma amiga ao celular, comentou que estava com muito medo de ser prejudicada no trabalho porque talvez não pudesse ir à festinha de confraternização da loja.
[...]
O motivo?
Ela não teria ninguém que a acompanhasse de volta pra casa, no longínquo “Conjunto Marcus Freire”.

Claro. Eu fingi que estava lendo uma revista e fiquei só prestando atenção no diálogo da moça. O namorado dela não iria, ninguém mora perto dela, ela mora longe, e não quer gastar dinheiro com táxi!
Justo. Ta certíssima.
Mas o receio veio de imediato: - e se, por causa disso, Seu Salatiel me demitir na leva de janeiro?

Por pouco eu não digo a ela: -Espírito de natal mesmo seria se o tal do“Seu Salatiel” lhe desse uma carona até em casa, sem, é claro, depois tentar cobrar pelo ato de solidariedade...

Mas eu estava muito séria lendo uma revista de tecnologia e informática, não podia dar essa pinta.

Continuei ouvindo, e ouvindo até que a derradeira dose de culpa veio e a arrebatou:
- Er, eu vou ter que ir de qualquer jeito porque agora eu já tirei o papelzinho do amigo secreto!

Isso mesmo! Se você estiver muito a fim de se queimar numa empresa, não precisa ser aquele funcionário que nunca chega na hora certa, ao invés de toda essa bobagem, falte ao amigo secreto e isto, sim, será bem fatal!

Infelizmente os créditos da moça acabaram e a amiga do outro lado não retornou a ligação, portanto, desci do ônibus sem saber o que a moçinha de verde tinha decidido. Se é que decidiu.

Fiquei imaginando o pedaço de papel queimando no bolso da calça dela, o nome insosso do colega de trabalho insosso escrito numa letra desenhada e cansada, cansada e derretendo no bolso da calça mal lavada suada suando no sono depois que a marmita acaba e tudo vira uma ilusão escorrendo no vidro das janelas dos ônibus que vão para o Conjunto Marcus Freire.

É.
Coisas obrigatórias são ruins. Mas as coisas que são suuuubjetivamente obrigatórias são ainda piores, elas acabam sendo desastrosas.

Vou dizer,
No meu primeiro amigo secreto, eu tirei a minha professora. Eu tinha seis anos de idade e decidimos lá em casa que eu iria presenteá-la com um batom.


Fiquei radiante! “Tia Tânia” era uma chata e apagava toooda a minha redação se eu copiasse uma vírgula errada do quadro para o caderno, porém, ela agora iria usar a mesma cor de batom que a minha mãe usava!! Talvez o batom fosse re-ge-ne-ra-dor, e isso era uma super boa intenção natalina!!
Pois bem. Na hora da festinha na colorida salinha do ABC, revelei que havia tirado a tia, e tive o azar de ouvir que havia sido tirada por ela. E ela, uma chata que babava de prazer em apagar redações alheias, me deu uma caixa com lenços de pano.

Isso mesmo. Uma caixinha com três rolinhos de pano. Sem nenhum pirulito.
Vejam que coisa mais desastrosa. No mínimo, ela trabalhou dobrado para dar conta das festas do colégio e não teve tempo nem tesão de ir comprar algo mais, digamos, pertinente, pois o calendário da instituição de ensino ficou martelando martelando em cima da cabeça dos funcionários dizendo que “cumpram as festividades por bem ou por mal”.


(Se ficaram curiosos, saibam que os três lenços viraram depois um super jogo de cama da Barbie... )

Já outra vez,
uma amiga minha muito querida me contou que fizeram uma festinha de amigo secreto na sala de aula dela quando ela era criança, e
mesmo com a situação difícil em que estava vivendo a família dela na época, ela resolveu participar da brincadeira. Estimulada pelas mensagens de solidariedade, comprou com o pouco que tinha um presentinho. Ela mesmo confeccionou uma embalagem e entregou à sua amiga secreta.
Minutos depois. A mãe da tal amiga, que já não era mais secreta, mandou a filha devolver o presente.
....
Era um sabonete.

(pausa pros risos)

Agora perceba só a deturpação, o desastre disso tudo!

Uma criança, um sabonete, uma mãe que esperava, com certeza, o selo da Piuí Brinquedos vindo sorridente no presente de amigo secreto, e esse, não vindo, transformou tudo em motivo para pití e espírito de porco.

Imagine uma criança uma criança e um presente devolvido, devolvido como uma carta em que se sela mudou-se, endereço insuficiente ou óbito, falecido, faleceu.

De-sas-tre.

Se fosse eu teria achado graça. Foi espontâneo, foi autêntico, diferente! Mas, não. Nós temos tanto medo em fugir da normalidade e amarramos tão bem amarrado às nossas confraternizações que elas, sufocadas, vão perdendo o ar o ar e a cor.. ficam sem sal.

E esta é a mensagem de fim de ano da gata deste famigerado blog: Deixemos fluir!

Eu não devia dizer, mas
No melhor amigo secreto que participei, os presentes foram entregues, de propósito, já no final da festa, e
Bem, eu,
Eu estava tão hehe alegre hehe, mas tão alegre, que
rasguei o blues e cantei “Baby, it’s cold out side” no microfone, no momento em que entregava o presente ao meu chefe...

E mais,
No meu natal mais inesquecível, em 1997, algum desavisado da minha família trocou as cantoras, e
ao invés de tocar a Simone com seu peguento refrão “Então, é natal”, saiu da tuba a voz da Clara Nunes, e
bem, e, er...
terminou a festa com todas as minhas tias recebendo santos e espritos no salão numa confusão tão grande por cima dos simbolos cristãos que até hoje ninguém se lembra do gosto do panettone de frutas cristalizadas, mas somente do cheiro forte do perfume que foi derramado da maneira como exigiram as entidades que chegaram pra festa de penetra...



(Renata Santana)

quarta-feira, 2 de dezembro de 2009

Duplamente Penetrada,

Recife é mesmo muito sem vergonha...







(Renata Santana)

quarta-feira, 25 de novembro de 2009

Exclusivo!!!

O escritor Wellington de Melo, do coletivo Urros Masculinos, anunciou que a festa literária FreePorto terá apenas 3 edições.

Isso mesmo.

A primeira edição do assustado anárquico-literário FreePorto, organizada pelo Coletivo, foi realizada nos dias 6 7 e 8 de novembro, na Rua da Moeda, zona boemia da cidade do Recife – mas lá só tomamos Skol.

E foi e aconteceu e balançou e bombou.

Mas tem data pra acabar.

Se você não teve a oportunidade de conferir o evento deste ano, pelo menos agora você já sabe que não vai precisar ficar budejando por conta de coisas do tipo: “Ah, no próximo show da Cássia Eller eu vouuu”. Fica a lição.

E o motivo de apenas 3 edições?

No vídeo gravado no bar “Bom dia, São Paulo”, na Rua Augusta (sim, ela de novo! Mas dessa vez estávamos lindos e sóbrios) e cujo proprietário é um recifense cabra da peste e ex-residente do bairro de Casa Amarela, Wellington justifica o curto prazo do evento.

Er... não é por que o depoimento foi gravado em um bar (hirc!) que não devemos levar a veracidade dos fatos em conta, ainda que a conta nos diga que uma cerveja custe quase 5 reais. Mas isso já é outra história...

Então, não leve nada em conta. Leve não leve não leve não. Leve em consideração.

É isso,


FreePorto,

Ei, bi, cí,

Dó-ré-mi

One, two, three.


terça-feira, 24 de novembro de 2009

Museu da Língua Portuguesa - SP.

Tentei fazer um registro da beleza multimídia que é este museu.

Me deu uma vontade tão grande de trabalhar neste lugar (até porque ele só funciona das 10 às 17h, hehe), que quase deixo o meu currículo na porta, dentro de uma cestinha de vime e com um laçinho cor de rosa: quero colo, vou fugir de casa, posso dormir aqui com vocês?

PS: O vídeo é curtinho porque a pilha da máquina era uma safadinha.

quinta-feira, 19 de novembro de 2009

Com Leminsk na Rua Augusta.

Não tinha nada a ver.
Ou até tinha....
....Tinha tinha tinha, estou certa que tinha!

Depois de uma manhã e de metade da tarde desta quinta-feira ouvindo literatura em formato-palestras no primero dia do Baladas Literárias, aqui em São Paulo, e tudo tudo descendo com gosto de água com gás...
....houve, a noite, um momento cerveja gelada e poesia sendo dita pra ser escutada até pelo ouvido engordurado do cozinheiro que ouvia, até então, só as quatro bocas do fogão.

É água com gás? não.
Eu ando cansada de palestras, e
quero lembrar que podemos falar de literatura em qualquer lugar. poesia não é um evento, é uma prática.


(Renata Santana - Vila Madalena, SP)

segunda-feira, 9 de novembro de 2009

Aí no meio daquele barulho no mercado da Boa Vista entre pássaros gente muita gente e o calor de um sábado de novembro na cidade do Recife aí la sabe la no meio de tudo um leitor sim sim sim um leitor do blog me parou assim, ele pegou assim no meu ombro, pegou assim, eu olhei pra ele e ele já olhava pra mim ele ele olhou e ja foi dizendo, mas ele ja foi dizendo mesmo:

- Cadê o blog?!


(silêncio)



No meio do barulho dos pássaros calor bosta de pássaros no asfalto derretendo no piso nas pisadas nas sandálias derretendo no forró barato do Mercado cheio de gente gente gente tanta gente menina é novembro e ficou silêncio e ficou e eu fiquei gaga e eu fique gaiza e eu não disse nada.

Eu disse,
eu poderia ter dito que um raio caiu na minha cabeça e eu fiquei assim assada tostada de cama de lona de febre comendo roendo as unhas e os dedos e os punhos e toda as varizes e escaras de uma invalidez paralisante.

Mas eu não minto. Minto não,

Eu fiquei muda eu fiquei gaga eu fiquei gaiza,
e o blog? e o blog? e o blog?
última postagem no dia 18 de outubro, menina menina menina, e o blog?

Minto não.
Olhei bem pra ele e ele e ele fez:
-parasse no Id, foi?

E eu,
sim sim sim, eu sou muito id... mas eu não minto não.

- O blog, né? menino o blog eu nunca mais porque eu não estava parada paralizada numa cama, porque eu poderia te dizer que fui atingida por um raio e estava de cama, mas
gato tem sete vidas e eu não estaria sendo leal (nem gata),
o blog está la assim porque é fim de período e as cadeiras da faculdade estão cheias de prego e eu não quero permanecer nelas durante muiito tempo. Eu quero mudar de cadeiras, eu quero.
E a ideia da mudança de um cabo que me conecta a Internet foi fatal, e aí eu sou uma blogueira há 15 dias sem Internet, eu sou. Eu sou uma blogueira que está online nos eventos literários no trabalho no estágio e aí não sobra tempo gás fôlego pra entrar numa lan house no final da noite e escrever sentindo todos os odores da adolescência suada impregnada numa inhaca daqueles que disseram em casa que iam tomar banho mas pularam a janela e foram jogar aquele jogo em que se mata e se grita o tempo todo e deixa o dever de casa envelhencendo sobre a mesa enquanto a mãe a mãe e o pai envelhecem e se azedam sobre as jornadas de trabalho que assim como o jogo em que se mata e se grita o tempo todo, também têm o tempo contado e e e e já são 18h e o ônibus que vai para as nossas casas está lotado.

É isso.
-Eu estou sem tempo e lugar pra escrever no blog, eu disse.

E o homem, o homem sabe, que ficou de ver o problema da minha Internet ele parece que também tem problema de tempo e,
nunca nunca vai ver a minha Internet. Porque você, vocês, não ligam pro homem da minha Internet para que ele encontre tempo, porque se ele encontrar tempo eu vou passar a ter mais tempo e se eu tiver tempo o blog vai ter texto. Quer o número dele?? eu dou!

Aí o leitor, meu deus, o leitor me parou e eu falei, falei mesmo.
Mas nada disso importa, nada disso importa. Repara que não importa?
Percebe?
A inhaca dos 13 anos jogando e suando na lan house apertada e fedida e oleosa e e e, atrasando o dever de casa que a professora pediu que copiassem do quadro e e e eu com medo de que o calor o delírio me levasse prum tempo em que eu estava, em que eu jogava depois da aula, nas máquinas de botões coloridos entre muitos e quase todos meninos, jogando e dizendo com a boca cheia de vento,
-tô no playtiiiiiiiiiiiiiiiiime, mãaaae, e
o time que se abre na boca como se houvesse "a" dentro da palavra, mas não há,
não há mais nada de ar. Há calor, há muito calor. E o calor transpirou meus 9 10 11 anos de idade, e
agora eu tenho 23 e não tenho ar nem playtime nem time porque meu time no laboratório de informática da Universidade está terminando, e eu vou indo pra aula porque quero mudar de cadeira, e nada nada disso importa quando
você tem um leitor que pára você no meio do caos de um sábado de forró barato com bosta de gente de pombos e pássaros e diz,

-não pára de escrever não, porque eu estou acompanhando tudo que você escreve...


(Renata Santana)

domingo, 18 de outubro de 2009

Id.


Idio, sim,
Crasia,
sim!

Chilique não.


Índio assim,
Crase em tupi,

Acenta não.

Indo sim,
Que um chão assim,

Assenta não.


Indócil,
Contigo, assim?

Acerta a mão!


Endosse,
Que um caso assim,

Defendo não.


Idio, sim,
Crasia,
Sim.

Chilique não!
.
(Renata Santana)

quinta-feira, 15 de outubro de 2009

Você é o som que você ouve?

Manhã de chuva no Recife.
Não é inverno, mas também não é verão, ainda, na verdade, é primavera... ainda que não tenhamos primavera.
Ainda que não tenhamos primavera as garotinhas de Recife cantam aos quatro ventos as canções dos Los Hermanos que sempre sempre falam de primavera (quando não, carnavais e colombinas tristes..)
(Los Hermanos é a banda mais “primavera” que existe).
Eu gosto da primavera.
Mas eu detesto Los Hermanos. (hihi...)

No último final de semana, um amigo de uma amiga me disse que eu tenho “mó cara de quem curte Los Hermanos”
(...)
Você é aquilo que você ouve? Mas, se você não ouve aquilo, que cara você tem?

(Fiquei preocupada)

O que será que saiu errado?
Foi o cabelo? Lembrei que nesse dia eu joguei a franja mais pro lado esquerdo (apenas porque creio que assim fico com ar mais jovial...)
Se não,
Foi a florzinha carmim que eu pus no cabelo. Ai meu deuuuuus..... foi a florzinha!!!
Maldita florzinha!
Maldita primavera bordô nos cabelos negros!

Eu juro que não sou Marcelo Cameliana, mas
Quem tem os cabelos curtos sabe muito bem que não há muita opção de penteado para eles, sendo assim, só nos resta usar e abusar dos adereços. No caso da florzinha foi fatal.

Não estou jogando palavras ao vento. Explico:
Quando o Marcelo Camelo lançou, no ano passado, o seu primeiríssimo CD solo, o SOU, o caderno Ilustrada, da Folha de São Paulo, convidou vários críticos musicais para comentar o novo trabalho do artista.

A página ficou tomada das mais diversas críticas. A que mais me chamou atenção foi a de um critico (não me perguntem o nome) que dizia:
“...é fácil reconhecer o público fã dos Los Hermanos, é aquele grupo de cults cujas meninhas flanam por aí com florzinhas de renda presas aos cabelos...”
(ele dizia mais, porém, vamos nos prender a este trecho.)

Ok. Deu pra entender a minha preocupação?

Tenho medo. Meeeeedo desses julgamentos. Eu tava lá, flanando pela cidade, demente demente jogando conversa fora com a minha singela, porém, funcional florzinha bordô a cumprir a sua função de temperar o “feijão com arroz” do cabelo, quando, de repente..

.............Tof!

Tome-lhe um rótulo bem no meio da minha testa!

Pois saiba:
Eu brinco de primavera,

- vamos, cigarras! Sair e comemorar com tulipas de cevada (hehe) a chegada da primavera, e
ainda que eu esteja com florzinhas a enfeitar os cabelos,

Eu não sou da estação Los Hermanos!!!!

Essa história de julgar é uma grande armadilha,
Ou vai dizer que os senhores algum dia na vida de vocês me olharam e conseguiram supor que eu,

Enxugo a louça no fim da tarde ouvindo Simone interpretar Suely Costa nos amores perdidos dos idos de 1970?

Ah, não?

Pois é.


(Renata Santana)

terça-feira, 13 de outubro de 2009

23.

Well well,
passou o inferno astral, chegou o aniversário, mas também já passou o aniversári0, e não resta mais nada nada a não ser a idade nova..
Tudo passou, e do tudo, agora só permanece a tal idade nova a inaugurar-se nos campos das fichas de inscrição...
Pois bem.
Em tempos de "ficar mais velha", caiu em minhas mãos hoje um poema que foi escrito pela minha irmã jus-ta-men-te na ocasião em que fiquei mais velha.

Foi há 15 anos.


Essa Menina
(Adriana Santana - 1994.)

Quem conhece essa menina?
Lá vem ela e lá se vai
Nunca pára num só canto
Vira e mexe, leva e traz

Pula aqui, pula acolá
Ouve tudo, tudo vê
Não se embrulha com perguntas
Sabe a tudo responder

Como fala essa menina!
Quem será que a mandou?
Sabe Deus Nosso Senhor!
Era anjinho trabalhoso
Brincalhão e gozador
Que de tanto aprontar
Enviaram para cá
Mas o céu até agora
Está de pernas para o ar

Quem segura essa menina?
Sempre inventa em que brincar
Canta, dança, pinta o sete
Está sempre a inventar
E em suas brincadeiras
Nem vovó fica de lado
No seu barco de alegrias
Leva todos a remar

Que doidinha essa menina!
Seu sorriso é sempre largo
E seus olhos sonhadores
A cabeça não se enrola
Sabe sempre o que querer
Tudo isso é o que a torna
Bem bonita de se ver

É assim que passa o dia
Essa menininha-mola
Que com as chatices da vida
Dança, brinca, deita e rola
E enquanto a TV mostra
Problemas e dura sorte
Tranqüila e sonhadora
Ela facilmente dorme

Então quem a observa
Com certeza imagina:

Quem no mundo pode haver que não ame essa menina?

terça-feira, 6 de outubro de 2009

Antes de partir

Passou,

A calça,
A camisa,
O paletó,


Engomou,


A cara
As malas
As crianças


E,
Na porta,

Tudo pronto
Tudo limpo
Sem um zinco,
Caminhou até o varal
E não deu o braço a torcer

Vestiu sua alma lavada,


E partiu.





(Renata Santana)

quarta-feira, 30 de setembro de 2009

Só porque Eurídice dorme e eu não sei se ela vai acordar.

Justo hoje você não acordou.

Justo hoje em que o sol saiu tão cedo e macio que a noite nem sentiu.

Justo hoje em que o sol somente fez cócegas e o mar está rindo até agora.

O mar se desmanchou de tanto rir.

(não sabe se ri ou se chora)

Justo hoje em que ouvi o mar assim, e
Pensei até que valia a pena sorrir vez em quando, aí você não acordou.

Você não me viu sorrir.
Justo hoje você não acordou.
Justo hoje.


Não é justo coisa nenhuma.


(Renata Santana)

sábado, 26 de setembro de 2009

Nós Pós recebe homenagem da UBE (como assim?)

Faltando alguns dias para completar dois anos de criado, o grupo Nós Pós - Português Suave recebeu uma homenagem, nessa última sexta (25), na Livraria Cultura, por iniciativa da União Brasileira de Escritores - seção Pernambuco, em virtude dos trabalhos realizados em benefício da literatura contemporânea em Pernambuco. O evento faz parte do projeto "A Cultura e a Arte em Pernambuco" coordenado pelo escritor Cássio Cavalcante.

O rótulo do Nós Pós como algo independente (além de recente) fez essa aproximação entre Nós Pós e UBE parecer, para muitos, estranha (como assim?).

Eu acho que esse reconhecimento é mais uma comprovação do boom de novos escritores que surgiu desde que o grupo começou os seus trabalhos, há quase dois anos, com a proposta de reunir escritores antigos e (caçar) novos para apresentações publicas, com local definido e periodicidade regular, dando fôlego e movimento à produção literária da nossa estimada Região Metropolitana.

Ai, e como eu adooooooro a palavra movimento. Mo-vi-men-to. Todo mundo percebe um corpo em movimento. Até aquele que não quer vê percebe os vultos e os impactos de um movimento.

Acho cafona quem confunde movimento com vanguarda. E Acho o cafonalha do cafonalha quem explora o conceito de ineditismo para apontar se algo é realmente bom ou não.

A academia, os criticos e seus óculos parafusados, às vezes parecem estar sempre buscando a tão sonhada vanguarda. Sim, vanguarda e ineditismo nos dias de hoje dessa nossa hiper super mega ultra sociedade híbrida. tsc tsc..

Quando fui convidada pelo Nós Pós para falar sobre essa literatura contemporânea no evento de sexta eu aceitei porque sinto que faço parte desse movimento. Mo-vi-men-to. Movimento que gera. Geração.

Mas ainda há pessoas que preferem passar o resto de suas vidas congelando num auditório discutindo, eternamente discutindo a eterna Semana de 22.

...

Gostaria de parabenizar ao Nós Pós pela homenagem recebida, bem como à UBE e ao escritor Johnny Martins, também presente no evento.

Quero crer que a cidade está começando a perceber o chocalho que leva amarrado na canela

(será que ela mexe o chocalho ou chocalho é que mexe com ela?)

Fotos: Pedro Rodrigues - Vetor Cultural

(Esq. para direita) Cássio C. , Johnny M. e Renata S.



(Esq. para direita) Alexandre M. e Danuza M.



(Renata Santana)

quinta-feira, 24 de setembro de 2009

Barba azul, sim! E não me venham com Zé Mayer...


Eu prefiro acreditar no Barba Azul.

Aliás,

Eu prefiro ser ingênua para cair na maior pala mitológica de toda história da humanidade do que assistir a novela das oito e ir dormir sonhando com o José Mayer.
Vou confessar,
(rapaz, eu acho que ando confessando muita coisa aqui...),
já tive meus momentos dreams and dreams com o Zé Mayer.
Claro.

Tem uma época na vida da mulher que ela ainda tem ovos, digo, tem paciência pra esperar a tal criatura principesca montada num cavalo branco.
(Se bem que na minha infância eu cheguei a esperar somente o cavalo, no caso, o Cavalo de Fogo – que foi um dos meus primeiros desejos de consumo - mas isso é outra história...hihi).

Pois bem. Pois muito bem.

Quando a mulher é mais nova ela ainda não tem faro apurado para perceber o aroma da ameaça que se esconde capciosamente na persona do sexo oposto.
Como raramente se percebe os defeitos, logo se cria a idéia de perfeição.

Não, senhores, não é preciso que a mulher ande armada para lutar contra as ameaças (qualquer pessoa armada é um saco!), mas é preciso que ela aprenda a ouvir sua intuição e a farejar para saber onde está colocando o pezinho, os dois pezinhos, e principalmente, saber retira-los na hora mais propícia.

A barba azul pode ser a característica mais estampada, mais na cara, mas os olhos da inocência a enxergam?
Que nada.
Naquele sorriso, naquela frase feita, tudo é mágico e eterno e camarão ao alho e óleo por R$19,90...

(Porém, você não tem como negar que a barba esteve lá o tempo todo!)

Porque as irmãs mais velhas não se casaram com o Barba Azul?
Porque logo enxergaram que aquele homem estranho e solitário que reside num castelo é, no mínimo, um problemático, e de imediato elas picaram suas mulinhas. Não deram conversa.

A irmã mais nova se ilude. Mas se ilude liindo.
Não fareja, e por isso, vai logo casando com o predador.

Pois eu vou dizer.
Eu ainda prefiro o Barba Azul ao Zé Mayer.

Depois que a nova novela da rede Globo estreou e nos deparamos com mais um personagem “irresistível” vivido pelo ator na televisão o twitter bombou (e ainda está bombando!) de piadas e uma galhofagem sem fim sobre o assunto.

Eu pensei: Ufa! Não sou a única tele-expectadora gaiato-crítica!

Mas o que mais me irrita, Rita, é a pretensão com que essas produções têm de tentar, eu disse teeentar, fazer um “pacote do homem-perfeito”. É como se todas as mulheres fossem iguais, logo, desejam o mesmo ideal de homem. Suspiram por um conceito assim assado.
Falácia.

Por isso que eu prefiro o Barba Azul.
Este antológico personagem nos da à possibilidade de desconfiar, de perceber a imperfeição.
A barba está lá, azul, cintilando sob o sol.
Ela não mostra tudo, claro, mas também não escamoteia tudo!

Perfeito-perfeito, um pacote (uma nécessaire, pra ficar mais elegante) de itens que o homem deve ter para que você o considere “perfeito” só mesmo no Projac.
E é exatamente por isso que ele parece plástico demais.

Que nós, Teresinhas de Jesus (de uma queda / foi ao chão...), possamos farejar entre Barbas azuis e Zé Mayers dohorárionobre,

Sem deixarmos que construções deveras simplistas injetem na sociedade a idéia consensual do cavalheiro para quem Teresas gostam de dar a mão.

A minha Teresinha fareja e eu prefiro mil vezes a honestidade à perfeição,

Eu prefiro o Barba Azul.


(Renata Santana)







terça-feira, 22 de setembro de 2009

Barba Azul, sim.

... E não me venham com José Mayer.




(Em breve, aguardem!)





...

sábado, 19 de setembro de 2009

A Céu é das Olindas!

No show realizado nesta última sexta em Recife, no Teatro da UFPE, Céu achou pouco toda beleza - e voz - que a esperta combinação de cromossomos dos seus pais lhe rendeu e mostrou também a todos que tem pernas lindas! hmm..

Vestida num, num, nuuum, vejamos...

...em uma espécie de macaquito-saia, minúsculo, com suspensórios cor verde limão ela subiu ao palco.

A roupa além de "nada com nada" era minúscula e teve gente que quase foi ao delírio jurando que, por um instante, viu a calcinha da moça.

Vou dizer:

Bia disse que viu!

(Disse que era colorida).

E Bia também disse que pegava liindo a Céu.

Ta booom, confeeesso,

eu também disse que pegava. Pronto!


Durante o show,

procurando mais adjetivos para a moça e me deparando com a sua já conhecida aversão a crooner, na verdade, a sua declarada anti-postura a figura da "diva" no palco, eu
olhei pra ela e a impressão mais sincera que me veio foi:
A Céu é das Olindas!


Em um repertório novo com ainda mais referências ao reggae (só faltou dizer à platéia, - fiquem na paz de Jah..), a moça de jeitinho leve, corpinho leve, poucas palavras, dança num ritmo auto-reggae desengonçado.

Parecia estar ali num círculo de amigos, cantando e dançando.

Dançando descompromissadamente, sem rigor, saindo do ritmo.

Falava com a platéia sem aquela dicção formal de quem fala em/ao público.

Nada disso. Falava como quem dizia, - Pessoal, a cerveja acabou, comprem gelo...


Pois é. A nossa cantora-revelação da "moderna" MPB, bastante popular no exterior, parecia estar numa rodinha reggae, parecia tomar umas no Bar de Aloma, parecia tomar a saidera com os amigos no Xinxin da Baiana e, no fim da noite, ir pegar aquele velho Rio Doce/CDU...

Para cantar a canção "Bubuia", do novo álbum, o "Vagarosa", Céu nos conta que essa palavra-título denomina aquela espuminha que fica por cima da onda do mar. Daí a espressão "vai na bubuia".

Pois bem. Céu é a própria Bubuia.

E não tem coisa mais Olinda do que uma Bubuia, tem?!



Bubuia - Céu (Letra)

"já que não estamos aqui só a passeiojá que a vida enfim, não há recreio


eu vou na bubuia, eu vou (2x)


flutuo, navegando, sem tirar os pés do chão365 dias na missão


eu vou na bubuia, eu vou (2x)
subo o rio no contrafluxoà margem da loucuraa fé que a vida após a morte, continua


eu vou na bubuia, eu vou (2x)


entoa uma toada em dia de noite escura,


na sequencia, na cadencia, na fissura,


eu vou na bubuia, eu vou suave bebendo agua na cuia


olho aberto, papo reto o peito como o samba


nenhum receio do lado negro da lua


vir me guiar, na bubuiaeu vou, na bubuia, eu vou..


o destino é um mar onde vou me desfazer


com o pente a deslizar na correnteza do viver


na bubuia eu vou..eu vou na bubuia eu vou.."



(Renata Santana)

terça-feira, 15 de setembro de 2009

Toc toc toc, Inferno Astral...


Eu acho que finalmente estou ficando adulta...
é,
sei lá..
Estou ficando chata e sem paciência pra coisas que até um tempo desse poderia tirar meu fôlego...


Algumas coisas já não estremecem e nem congelam minha barriga, e


também não estou facilmente "arrepiável" como antes.
(arrepiável: S.F. pessoa dada a arrepios, obridada!)

Não sei o que se passa. Acho que o tempo passa.

Quando eu era criança, pensava que ser adulto era ir resolver coisas no centro da cidade.

(todo adulto ia resolver coisas no centro da cidade...)

minha mãe ia,

e voltava com as contas pagas e uma sacola cheia de frutas,

pêra barata maçã barata banana madurinha, e as uvas estavam de graça!

(...descasca esse abacaxi que a gente já come depois do almoço...)

Ela ficava com o busto vermelho por conta do sol e quando eu a abraçava sentia um cheiro morno de alfazema suíça.

E quando eu a tocava podia ver a marca dos meus dedos naquela pele vermelha.

Eu ficava ouvindo ela falar que aquelas uvas tavam mesmo de graça, e

alheia a todas as promoções,

só observava a marca branquinha dos meus dedos desaparecer naquele busto vermelho e cansado.

Adulto era assim.
Adulto tinha a mão suja de dinheiro, e
não colocava no SBT quando acabava a novela da Globo.

Há tempos resolvo coisas no centro da cidade.

Muitas coisas. Ene coisas.

Praticamente todas as minhas coisas eu resolvo la. Coisas e mais coisas.

Meu encanto pelo centro da cidade ainda não acabou, mas
o local perdeu um pouco do seu mistério.

Depois das frutas baratas,
eu descobri os livros baratos, aí o centro se tornou uma espécie de segunda casa.

Hoje é a minha mãe que me espera voltar do centro.

Mas não é isso.
É aqui dentro. Alguma coisa me irrita, e
tenho certeza que não é das "coisas" pra se resolver no centro.

Uma nuvem sombria,
séria, sisuda,
dessas que a gente olha olha olha e não enxerga uma forma engraçada.
Nada.
Ela fica só me encarando.
Eu fico só encarando ela.
Ambas mudas.
Eu tento ser amiga, mas ela me corta.
No fundo,
ela me cobra.
... e eu sobro.

Eu acho que to ficando adulta.
Mas eu sou adulta!
Não é isso,
algo em mim está envelhecendo...

O que penso:
- Toc toc toc, aqui é o inferno astral, gata!

pronto,
os astros enviaram essa nuvem chatonilda pra me vigiar.

Não tem como escapar,
Parece que tudo aquilo que tem a ver com a lua não adianta correr.

Em menos de um mês eu farei 23.
Pra mim,
22 23
não muda muita coisa não. Muda não.

Mais aí vem o porra do inferno astral.

(nuvenzinhas..)

Fazer a gente entrar em criste justamente quando você se convence que ter largado a terapia na adolescência foi a melhor coisa que você fez na vida. (!!)

Não, não, não, não...
o inferno astral existe, senhores.

É como uma cólica.

Antecede uma espécie de morte interior.
Sim, porque desejamos "muitos anos de vida", jus-ta-men-te porque o aniversário é uma espécie de morte.
Você está morrendo.

Vão dizer,
-eiiiita, é mais um ano de vida porque é mais um ano de vida...

Claro, senhores.
É um ano a mais.
Mas,
também é um ano a menos.

É uma troca.
;)
Todas as vezes em que o meu eu-atento percebe a chegada de mais um outubro..
ele manda torpedos pro meu eu-demente,
Aí eu não sei sobre o que eles conversam, tramam, combinam, mas
eu me sinto estranha.

(Olha a nuvem alííí!!!!)

A minha vida ganhou outros sabores, mas muita coisa já não importa mais.

Inferno,
astral,
cólica sem remédio.
Eu não sei por onde anda a minha lua nem os meus satélites, senhor.

....e eu nem cheiro a alfazema suíça, mamãe.



(Renata Santana)










quinta-feira, 27 de agosto de 2009

Insônia



Sem pregar os olhos.

Inquieta,
Sônia revirou-se na cama e furou os dedos com as velhas agulhas, as mesmas agulhas de toda juventude.

E então furou os olhos, as veias, o leite, os sulcos, toda a dor de cabeça e algumas manchas escuras da pele seca.

Descobriu fendas por onde passou preciosa e certeira a linha finíssima de seda azul.

E sorriu, e fez cócegas, e doeu, e chorou. Mas ela costurou toda dor.
Crivou seus tormentos e alinhavou, assim, com um nó bem forte, à saudade. Saudade a fiar.

No fim da noite, a cama molhada, se livrou daquela colcha de retalhos.

(e nem fez tanto frio)

Agarrou a si mesma, e finalmente,
Sozinha,
Ela dormiu.

Em Sônia,

faltava descobrir-se.


(Renata Santana)

terça-feira, 25 de agosto de 2009

Foi :) pra vc?

...
Os românticos mandavam flores.
Os modernos telefonavam.
Os pós-modernos deixam scrap no orkut...


Você tem 112 caracteres pra falar da sua paixão?!

(Vence quem melhor engolir os espaços)
-Com emoticons, ou não.
(Renata Santana)

sábado, 22 de agosto de 2009

Inocência


Ainda muito criança, na biblioteca do colégio, eu botei as mãos pela primeira vez em um dicionário de inglês.
Pura curiosidade. Muitos termos além do blue.
A primeira palavra que procurei a tradução foi bunda.
E a segunda,

cu.

Depois saí da biblioteca demente e astuta, saltitando com um livrinho cor de pastel da Ruth Rocha debaixo do braço.

Foi assim.

terça-feira, 18 de agosto de 2009

Suzana era de ferro, o absorvente, não!


Sabe qual é a coisa mais ridícula em uma pessoa cair no chão?
A pessoa ta ali, perfeita e harmoniosa com o seu estado natural de equilíbrio. Pés no chão, gravidade, pé firme, andando, sandália bonita, “cheia de si” e de repente, perde-se toda essa relação com o equilíbrio e tomba no chão.
-Como? Eu tava andando normal, nem tropecei, quando vi já tava no chão....

Pois é. Temos que admitir que é muito “confortável” essa nossa necessidade de equilíbrio.
(Quem não ajeita um quadro torto na parede? Todo mundo ajeita, centraliza!).

A coisa mais ridícula em uma pessoa cair no chão é o fato dela sempre acreditar que nunca vai cair no chão. E quando esta ainda se encontra estatelada demonstra que,
Ops!
cair,
é hu-mi-lhan-te.
Claro. E isso tudo porque não admitimos nem aceitamos o desconforto do desequilíbrio.
Sim, o desequilíbrio parece incomodar, cutucar, irritar. Nos tira da segurança, da ordem, do aninho confortável do equilíbrio.

(Isso tudo pra dizer que situações inesperadas podem fugir em dois segundos com todo o seu senso de ordem).

É justamente nos momentos em que você está se sentindo mais segura, onde você está se levando finalmente a sério, que a vida vai e apronta uma marmelada com a sua cara.

(...)

Eu,
a protagonista desta história,
assistia aula na universidade hoje pela manhã,
muito adulta, debatendo e polemizando,
muito bem resolvida, muito experiente,
muito moderna, muito articulada,
muito falando de livros com o professor
,
quando de repente,
estava acuada na quadra de ginástica,
com vontade de chorar,
amarela,
naquela manhã na aula de educação física
na 5ª série,
em que o fluxo da minha menstruação veio danado pra catende com vontade de chegar.
(e vazou como um rio vermelho sem margens na minha bermudinha azul).
,
Mais uma vez o desequilíbrio.
Tudo bem que na universidade já não há m ais aquele tabu.
Mas a sensação de ter uma mancha imeeeeensa e vermeeeeeelha, bem à vista, na sua calça jeans é e sempre será humilhante!
,

Eu levantei e sentei
,
11h, a cadeira suja, a calça suja e uma reunião de trabalho ao meio-dia.
,
-Alguém tem um casaco?
(precisa dizer pra quê um casaco? Ok. Ta calor...)
,
-Ei, alguém tem um casaco pra eu amarrar aqui na cintura?
(precisa dizer mais? Uma garota amarela querendo um casaco pra amarrar na cintura?)
,
-Gente, pelo amordedeus, minha menstruação vazou na calça, eu preciso ir embora alguém tem um casaco???
(-eiiiiita, tadiiiiiiiinha, olha, fulana tem um lá na frente!!!)
,
Fulana faz uma cara de poucos amigos e solta um,
-tá!

(bixo, que mulher não é solidária a outra num momento desses? Não é só emprestar o casaco. É também dizer,
- aiii, olhe, vá pra casa com ele, não se preocupe, vai dar tudo certo, ai, vai, não fica assim, acontece, ta com cólica? Quer conversar? Assino teu nome na ata?)

Não, senhores, eu não tive direito a fazer manha nem a colo solidário.
O que há com essas mulheres?

Com o casaco rosa pink (em nada combinando com a minha roupa...) amarrado na minha cintura fui ao banheiro e só não chamei o absorvente vazado de arroz doce.
Depois de rodarrrr atrás de um rolinho de papel higiênico (sim, porque papel higiênico em universidade pública e água em bebedouro são coisas raras!), Eu saí do banheiro (ou seria fraudário?) devidamente “trocada” e 10% mais segura.

No ônibus, ainda fazendo cara de segura, me esforçando ao máximo, eis que ao tentar alcançar a carteira um absorvente suicida se joga aos pés do cobrador...
O cobrador olhou pra mim,
Eu olhei pro cobrador,
(aqueles dois segundos filhinhos da puta em que o mundo parece congelar)

O que você vai fazer se não manter a espontaneidade?
,
Risinho no canto da boca,
,
Aquele famoso:
-eita!
,
(Afinal, qual é o problema? Todos os dias eu estou com a calça manchada de sangue na bunda e absorventes suicidas saltam como pipoca na panela da minha bolsa e caem no chão em pleno CDU...).

É lógico que eu não ia deixar aquele rastro do meu desmantelo ali. Abaixei cheia de charme (ahh, o teatro...) e soquei o sacana de volta na bolsa.
Na minha cabeça,
- você é um Always muito mau, viu?! mau mau e mau!

Ao sentar,
Me deparei com outro grande dilema:
Se correr o bicho pega se ficar o bicho come (mas não foi esse), foi,
-Se a calça encostar na cadeira vai sujar tudo de sangue, se eu sentar em cima do casaco vou sujar a roupa da menina!

(God! Porque eu saí de casa hoje?)

Respirei.
Procurei uma cadeira afastada,
uma daquelas lá atrás onde você sofre todos os “catabius” que tem direito, e me sentei isolada e humilhada. Optei claro, por sujar a cadeira do ônibus da CRT.

Mas o Cão, que não é besta, atenta.
Aliás, o Cão é besta, né? É besta-fera. Então deve ser por isso que ele é mestre em atentar e fazer dos outros igualmente besta.
Mal sentei,
Avistei da catraca o homem mais bonito que eu já vi entrar no CDU!
Lembrava até aquele deputado estadual (começa com a letra R e termina com a letra O...hehe) que quando estagiei na Alepe,
ai!,
eu costumava comentar com as outras estagiárias sobre a sua beleza que estava menos no rosto e mais na postura!
(um homem com postura vale mais do que 10 simplesmente bonitões).
Lembrem-se,
Quasímodo era feio porque era corcunda!
Pois bem,
Em vão foi o esforço do meu pensamento para que ele sentasse bem distante de mim.
(pelo menos naquela manhã),
Mas como tudo estava mesmo obedecendo à ordem inversa, nem me espantei quando o carinha robusto e cheio de porte sentou justamente ao meu lado!

(Como assim, Bial?, E agora, José?)

Sou boba mesmo. A idéia de que quando eu me levantasse ele iria ver a cadeira toda manchada daquele sangue vivo me deixou desesperada!
Se a mancha não estivesse vermelha, no mínimo estaria “cor de burro quando foge” e,
ele poderia supor que aquilo ao invés de sangue era merda e eu,
estava toda cagada.
-Não, não, nãooooooooooo.

Sutilmente,
Abri a pasta, trá-lá-lá, arranquei uma folha do caderno, trá-lá-lá, fui disfarçando, ajeitando a franja, e da forma mais gatuna possível, durante um catabiu bem oportuno passei a folhinha pra debaixo da bunda.
Ufa.
Fiquei com aquela cara de puta-santa misturada com gato que engoliu canário.
Pensando, sinceramente pensando,
Como somos patéticos quando nos julgamos muito sérios e muito acima do bem e do mal.
Com a cabeça voltada para todos os compromissos, sempre pensando em resolver tudo pra ontem, em organizar, em deixar tudo pronto, em sermos reconhecidos, focando nossos pensamentos para o cotidiano útil, para formas inteligentes de aproveitarmos nosso tempo, em distribuir de maneira eficiente as atividades mais híbridas que fazemos e ainda não esquecer de tomar a porra da Vitamina C depois do almoço.
De repente,
A sua cabeça está 100% voltada para aquela folhinha cachorra do seu caderno barato que está cumprindo a inesperada função de não deixar rastros do desmantelo sanguíneo que está sendo o seu fluxo menstrual, ele que resolveu não somente burlar a data certa e vir mais forte que de costume, mas arrasar com a cara do absorvente e fazer de você a pateta do dia!
Que feliz, né?!
...
Com a cara mais pra fora da janela do que deveria, tentando sentir um ventinho na cara de ogra Fiona que eu deveria estar, me lembrei de uma amiga queridíssima que até aos 15 anos não podia usar absorvente.

Ela usava paninho.

Imagina a criatura ir ao colégio com um pano (sem direito a abas) preso à calcinha?
Aquele mondrongo na frente do short sinalizando tudo e mais um pouco.
E o estado de insegurança?
Sim, porque se vazasse ela não poderia simplesmente descartar o pano (uma vez que todos os panos eram devidamente lavados e re-utilizados por ela!)
Claro que tinha dedo de mãe nessa história, né?
Acontece que a mãe dessa menina não a deixava usar o absorvente porque não queria que a filha fosse até o mercadinho comprar o produto. Afinal, a vizinhança toda ia descobrir que a menina já era “moçinha”. E assim, os gaviões do pedaço já iam ficar de olho nela.
Nesse momento eu até ri, pensando, que logo essa era a melhor parte em se tornar “mocinha”.

Um pouco antes da minha parada, o bonitão robusto, com os cabelos molhados e barba recém feitíssima desceu. Foi bom. Até porque eu já estava zonza com o cheiro do perfume dele. Irritante de forte. E eu estava sensível. Argh.

Quando cheguei em casa, muito aliviada (porém, atrasada) cumpri toda a sessão higiene e saí correndo nova, limpa e cheirosa pra tal reunião ao 12h:00 (e que na verdade eu cheguei de 12h:40, mas com a justificativa acatada por todos, obrigada!).

Fim da reunião. Fim das obrigações diurnas. Um sol lindo, uma tarde linda no Bairro do Recife Antigo e a inesperada notícia de que o escritor pernambucano Raimundo Carrero estaria ministrando uma de suas oficinas sobre a construção da narrativa, gratuitamente, no auditório da Livraria Cultura, no mesmo bairro.
Claro, eu e mais 4 amigos fomos assistir esta aula.

Raimundo Carrero nos falava sobre algumas técnicas na construção da ficção e,
entre elas,
a presença do chamado “Eu - alter ego” . Segundo Carrero, o alter ego é uma forma do autor contar/revelar as verdades dele, mas usando um nome diferente para o personagem.
Quando o autor revela a sua história, seus segredos, assinando com seu próprio nome ele está usando o chamado Eu - confessional, mas,
Se usar um outro nome qualquer que não o seu,
Se trata do Eu-alter ego.
Pois bem.
Em seguida, Carrero nos pediu para, em cinco minutos, escrever em cinco linhas uma história usando o Eu - alter ego.
(reiterando: aconteceu com o autor, mas ele dá outro nome ao personagem)

Num dia como esse eu tinha material de sobra, né?
Fim dos cinco minutos e surgem às cinco horas de penúria vividas por Suzana, em cinco linhas – lidas por mim em voz alta para aquele auditório lotado:


“Dona dos seus próprios passos, das horas, dos semáforos. Absoluta e segura com a força dos seus vinte e poucos anos, Suzana de repente, voltou a 5ª série. Recuada na universidade como um bichinho sem graça, escondendo a mancha vermelha que ousou atravessar a calça jeans. Suzana era de ferro. O absorvente, não.”

Foi aprovado.
E eu fiquei muito contente, mas,
Achando uma coisa, no mínimo, estranha:

Eu corri pra esconder isso durante toda a manhã e além de revelar (através do alter ego) para aquela platéia de escritores, estou levantando bandeira aqui no blog também.

Estou muito confortável aqui na minha cadeira relatando tudo sem vergonha nenhuma.

Arrá!,
Meu equilíbrio foi devolvido!
Por isso, eu estou muito confortável. Saí do caos e voltei à sensação de ordem.
Nós e a nossa eterna relação com o equilíbrio...
Não tem ninguém olhando pra minha calça, eu não estou preocupada com folhinhas cachorras na cadeira, com o casaco rosa pink, com absorventes suicidas ou a cara do cobrador...

No meio da tarde, falando sobre Suzana,
(construindo Suzana pra falar de mim),
O equilíbrio voltou macio e percebi o quanto é bom não ser de ferro.
Ou não se preocupar tanto em ser de ferro. Porque quando você perde o seu chão duro e seguro e vai com a cara no chão,
fica mais fácil pra se perdoar!

-Suzana,
Não queira ser de ferro,
Deixe isso para as coisas insolúveis, chatas, industriais, artificiais (e ainda assim fuleiras),
como os absorventes femininos.


Renata Santana

segunda-feira, 17 de agosto de 2009

Difícil...

Difícil, hein?
Aonde eu penso que vou deixando mofar um post aqui há mais de 10 dias? Confesso que ta sendo bem difícil tocar a minha vida real e ainda sentar na frente do computador para postar no blog. Os amigos já estão até puxando a minha orelha tal qual eu avisei.
Nem comecei e já quero avacalhar. Nem créditos pra avacalhar eu tenho, ainda...

Acontece que este mês de agosto já entrou (como eu esperava...) com tudo. Bombante. Me arrastando para lá e para cá em mil atribuições sem intervalos para preguiçinhas espertas.
Isso é ótimo! Pique é comigo mesmo!
E preguiçinha também...
Por isso, aquele horário clássico para escrever que tem o nome híbrido de “tarde da noite” (é tarde ou é noite?) foi devidamente preenchido com meu soninho. nham...

Dentro dessa minha famigerada meta de me tornar uma mulher organizada, tive até a pachorra de formular uma planilha com os horários das atividades. Nela, os itens
“atualizar/checar a vida virtual”, bem como, “escrever, ler, transcrever dos rascunhos,” aparecem ambos após às 23h.

A intenção era alimentar o blog, dar atenção a outros blogs, aos amigos orkuteiros, sites queridos. E isso com uma margem de tempo para o espaço gasto na trilha do hipertexto e todos os sem-números de links que se vai entrando.
(E olhe que neste item eu nem inclui “checar email” porque esta atividade é tão 24h que ela é um item atemporal e vitalício!)

Para escrever, claro, eu não me impus horários. Escrever eu escrevo escrevo escrevo...
Mas coloquei horários, sim, para trabalhar esta produção.
E é assim, é?
Nasce na hora que quiser e fica por aí zanzando? Nãooooooo, minha filha....
Horário pós 23h: sai tudo de suas plataformas langanhosas beira de papel da estrela e vai tudo ficar biito e cheiroso no computador.

(Até aí aplausos pra mim.
Mas na prática é tapa aqui descobre ali).

Este horário, como eu já disse, vem sendo gradativamente preenchido com meu soninho gostoso (e fudido de cansado...). Aí a vida virtual já começa a cobrar e fazer barraco na sua vida real, enquanto a minha bolsa outrora limpa e “só com o essencial” vai se enchendo novamente dos amigos “papeizinhos avulsos com letras doidas”. A vida vira de novo aquela confusão que na hora do troco você quase entrega um poema ao cobrador ao invés dos dez centavos...

Deu né?
Deu pra ver que eu estou tentando. Eu juro que estou. É claro que nos dias de menos cansaço eu me dedicarei menos a Morfeu (ou é ele quem se dedica a nós?) e cumprirei os horários com suas respectivas atividades.
Afinal, eu ouvi dizer que blogueiro não dorme. Eu durmo. Afinal, sou chic, moderna e tenho planilha com horário estabelecido para este item.
(Planilha de Excel pra hora de dormir? E pra sonhar, também, mulher moderna?)

A que ponto chegamos?

Renata Santana.

quarta-feira, 5 de agosto de 2009

Tudo aquilo de que me despeço, sempre me despedaça.



(Ou ensaio sobre o desapego..)



"Tanta coisa

entre os dedos

e s c o r r e

e
sem significado,

vaga.

..não fosse o meu desespero diante da sutil partida
dos morangos mofados, ou
dos cílios que caem de madrugada".

.....


Sim, senhores.
Eu estou praticando o desapego.
E isso não é porque está passando uma novela "da cultura espiritualizada" arebaba no horário nobre. Sempre me empolga quando alguém diz:


- precisamos ser mais desapegaaaaados, rapaz. Os orientais é que tão certos!!



Mas depois de assentir com a cabeça e dizer prontamente,
- Num éeee...
..volto-me atentamente para o meu "espírito ocidental" e concluo que,


tá,


mas eu sofro de um outro tipo de materialismo. Não é raro, eu já conheci uma porção de gente assim!
Sempre fui visitar aquelas casas de brechó no centro da cidade e me deparava com um monte de gente que tinha mó cara desta minha "síndrome".


Certo dia até um senhor gordo, de suspensório, e com a pontinha do bigode arrebitada eu avistei..
Parecia um marechal daqueles dos livros de história (se não fosse a pastinha de funcionário público..). Tomamos um deliciosissimo licor de jenipapo servido pelo dono do estabelecimento e comentamos o charme de uma madeira inglesa. Dei mais dois giros e quando percebi, ele já tinha ido..
Pois bem. Apesar de não me vestir de maneira alegórica- como o nosso amigo marechal - sou facilmente seduzida pelo vestígios do passado.


E além disso,


dou trabalho pra me desfazer das coisas.
É como se desse para conviver material e harmonicamente com o passado.


Não crio muito caso em perder o celular, a bolsa, a carteira com todos os cartões (como se fossem muitos..rsrs), mas venha me dizer que sumiu aquele saco plástico cheio de provas da segunda série!!


er..



bom, aí após uma senhora reforma esse mês aqui em casa,


e



a minha meta de ser de agora em diante -mais do que nunca- uma mulher organizada!



Eu:


Desentulhei tudo, ponderei, dividi tudo em seus significados práticos ("funcional", no discurso das empresas modernas), sentimentais e necessariamente nostálgicos. Tudo bem. Esta terceira categoria é uma autofalácia para poder, dentro dela, sair jogando aquilo que estava difícil de se desfazer.. hehe,
mas aí eu fui mais esperta e subdividi a categoria em "absurdamente necessário para nostalgias - mostrar para filhos e netos-". Pronto. Aí ficou mais fácil.



Chega de bagunça e um sem número de velharias "insocáveis"!


Foi difícil, afinal, eu desconfio que essa síndrome é mais do que congênita, é hereditária.



Posso ter culpa no cartório, mas nasci e cresci numa família tão igualmente desligada no avançar do tempo que é comum encontrar nas minhas fotografias de "matuta" ou seja, no período junino, a decoração da casa repleta de enfeites natalinos.


(...)


Não é pra rir, mas



logo nas primeras caixas abertas durante a limpeza encontrei um jornal com um listão de vestibular, guardando o nome da minha tia (circulado de caneta Bic), aprovada em serviço social pra UFPE..

Hoje ela tem 6o anos e trabalha no INSS de São Paulo..


(...)


Entre cadernos escolares, agenda com o nome de todos os paquerinhas do colégio,



fichas da faculdade (da minha, dos amigos e também as de todos daqui de casa, multiplique!),


agenda telefônica que sequer tinha números com o "3" na frente,


fitas k7 arranhada e,


fitas vhs (vermelhinha "Basf", com todos os filmes e clips pela metade..),


fantasias de carnaval (e o tecido original também..)


e até,


a saia que eu usei no meu aniversário de 1 ano (...)


Dica: Faça a pergunta "pra quê isso?" e você será muito mais feliz!


(Já estou me sentindo dando consultorias por aí.)


Mas devo confessar,


de tudo, o que doeu mais...


foi esta outrora elegante vitrola da Polyvox. Segundo meu pai, ela era o "must" do momento,

De acordo com a minha mãe, ela era "a bila" da técnologia.


Meu primeiro CD eu ganhei aos 8 anos, mas nunca deixei de ouvir o "bolachão" e, esta vitrola ainda deu caldo e me possibilitou isso até os meus 16.. quando ela já não aguentou mais e saiu despencando em pedacinhos (a agulha foi a primeira..). Segundo a maioria consultada, era sem concerto.

Aí eu mantive a danada socada no meu quarto até ontem. Mas agora chegou seu dia..(Epa! só ela, dos vinis eu não me desfaço, aí é suicídio!!)


Outra peça clássica é este piano. Desafinado (todo fudido mesmo..), ele ainda não foi dispensado, mas espera a reforma acabar definitvamente para encontrar o seu destino.


ele sempre encabeçava a lista de duas categorias, "sentimentais" e "necessariamente nostálgicos". Mas agora ele se lascou de verde e amarelo (ou marrom imbuia descascado).


Na minha cabeça foi bem complicado porque devido ao tempo eu já o considerava parte da família. Agora eu o vejo mais como uma coisa morta que precisa descansar..

-Confesso que estou sentindo uma leveza bem maior. Sim, eu ainda sou uma saudosista incorrigível. Mas hoje há outras (e diversas) formas de agrupamento da informação, outras plataformas, essa vida ta um looping, ela me pede passagem e eu preciso estar disponível!


Além do mais,

pra quê serve uma revista com anúncios de ovos de páscoa de 1997?



(Renata Santana)
















































































































































































































































































quinta-feira, 30 de julho de 2009

A Gata sou eu...

“Ela comeu meu coraçãoTrincou, mordeu, mastigou, engoliu, Comeu, o meu, Ela comeu meu coração, Mascou, moeu, triturou, deglutiu, Comeu, o meu..” (trecho de “A Gata Comeu”)


Antes de alguém dizer que eu estou me autointitulando “gata” por aí, explico.

Este título tem suas razões bem particulares, e digamos, começa a partir de uma gozação da minha espirituosa família para com esta caçula de 22 anos.

Pois quando esta caçula tinha 21 anos, apareceu pelos arredores de nossa residência uma gatinha muito muito fraca.

-Minho... min, miiiin...

Nem miava direito. Não proferia um “Miau” sequer. Pequena, encardida e frágil.

Pois bem. Logo foi adotada pela família.

Lembro que cheguei a noite da faculdade e me deparei com aquele langanho em forma de gata dormindo na área de serviço com um pires de água do lado. "Não vai durar um dia", pensei.

Recebeu o nome de Cíntia (em homenagem a uma das crianças do bairro).

Passados uns dias (“detefon, almofada e trato”), Cíntia começou a ficar forte e crescer. Surpreendeu a todos se tornando uma lapa de gata bonita e.....boémia!

Sim, todos os gatos (até os exessivamente preguiçosos), são boémios, notívagos.
É inerente a raça.
Madrugar por sob os telhados seduzidos pela lua e por todas as asas da noite.
(ai...)

Mas, Cíntia começou a avacalhar.
Saía a noite e voltava diiiias depois. Muitos dias vagando, sumida. Estroina que era.

Quando voltava pra casa, chegava tão silenciosa que todos só percebiam a sua presença quando o sol já estava alto. Aí ela se espreguiçaaaaaaaaaaava como só só os gatos sabem se espriguiçaaaaaaaaaar e dormia o dia todo.

Ficou nessa vida boa até que... saiu e não voltou mais! Nunca mais.

Bem, aí começou, né? Era só esta caçula que vos escreve sair para as madrugadas eufóricas e enfurecidas destes 20 e poucos anos para ser alcunhada (injustamente) de Cíntia.

Eu dormia o sono dos justos (e ressacados) aí quando acordava, vinha o primeiro engraçadinho:
- menino, “Cíntia” chega tão silenciosa que a gente nem percebe, chegasse de que horas, Cíntia?

E mais. Diagnosticaram a minha síndrome de boémia crônica como uma espécie de “cintianismo”. Humpf...
Hoje, todos da minha família perguntam:

- E Cíntia, como vai?

Não, senhores, eles nem se lembram mais da primeira Cíntia. O bichano mesmo.
A Cíntia é,
Ex-clu-si-va-men-te, eu!
A gata, sou eu.

E essa é a minha história.


Renata Santana

terça-feira, 28 de julho de 2009

Porém, já nascemos livres...


Uma gata.


cheia de histórias.


E não só isso.


Uma mulher cheia de palavras, palavrinhas e palavrões.




Esse blog surge como mais uma alternativa de organizar a bagunça dos meus pensamentos.


Não quero dizer que estou pondo ordem em nada.


Mas quero progredir mentalmente (ordem e progresso?)


Talvez isso se dê através de muita muita muita explanação, escólio, anotação.


E como já não suporto guardanapos rasgados dentro da bolsa (outra bagunça, aliás..)


Me rendo ao blog!


E, por favor, puxem a minha orelha virtual se eu começar a relaxar por aqui também!


Continua a lei da subversão (subversão com lei? isso não foi bonito..)


maaas,


como estou cheia de me perder,


agora,


eu me encontro aqui!




Fica a dica.


E não só a dica,


mas os poemas, textos, crônicas, contos, haikais, impressões, diário de bordo (seja navio ou ônibus) e toda e qualquer produção desta gata. Cheia de histórias.


E não só isso...




Abraços aos que virão,




Renata Santana