(Ou ensaio sobre o desapego..)
entre os dedos
e s c o r r e
e
vaga.
..não fosse o meu desespero diante da sutil partida
dos cílios que caem de madrugada".
.....
Sim, senhores.
Eu estou praticando o desapego.
E isso não é porque está passando uma novela "da cultura espiritualizada" arebaba no horário nobre. Sempre me empolga quando alguém diz:
- precisamos ser mais desapegaaaaados, rapaz. Os orientais é que tão certos!!
Mas depois de assentir com a cabeça e dizer prontamente,
tá,
mas eu sofro de um outro tipo de materialismo. Não é raro, eu já conheci uma porção de gente assim!
Sempre fui visitar aquelas casas de brechó no centro da cidade e me deparava com um monte de gente que tinha mó cara desta minha "síndrome".
Certo dia até um senhor gordo, de suspensório, e com a pontinha do bigode arrebitada eu avistei..
Parecia um marechal daqueles dos livros de história (se não fosse a pastinha de funcionário público..). Tomamos um deliciosissimo licor de jenipapo servido pelo dono do estabelecimento e comentamos o charme de uma madeira inglesa. Dei mais dois giros e quando percebi, ele já tinha ido..
Pois bem. Apesar de não me vestir de maneira alegórica- como o nosso amigo marechal - sou facilmente seduzida pelo vestígios do passado.
E além disso,
dou trabalho pra me desfazer das coisas.
É como se desse para conviver material e harmonicamente com o passado.
Não crio muito caso em perder o celular, a bolsa, a carteira com todos os cartões (como se fossem muitos..rsrs), mas venha me dizer que sumiu aquele saco plástico cheio de provas da segunda série!!
er..
bom, aí após uma senhora reforma esse mês aqui em casa,
e
a minha meta de ser de agora em diante -mais do que nunca- uma mulher organizada!
Eu:
Desentulhei tudo, ponderei, dividi tudo em seus significados práticos ("funcional", no discurso das empresas modernas), sentimentais e necessariamente nostálgicos. Tudo bem. Esta terceira categoria é uma autofalácia para poder, dentro dela, sair jogando aquilo que estava difícil de se desfazer.. hehe,
mas aí eu fui mais esperta e subdividi a categoria em "absurdamente necessário para nostalgias - mostrar para filhos e netos-". Pronto. Aí ficou mais fácil.
Chega de bagunça e um sem número de velharias "insocáveis"!
Foi difícil, afinal, eu desconfio que essa síndrome é mais do que congênita, é hereditária.
Posso ter culpa no cartório, mas nasci e cresci numa família tão igualmente desligada no avançar do tempo que é comum encontrar nas minhas fotografias de "matuta" ou seja, no período junino, a decoração da casa repleta de enfeites natalinos.
(...)
Não é pra rir, mas
logo nas primeras caixas abertas durante a limpeza encontrei um jornal com um listão de vestibular, guardando o nome da minha tia (circulado de caneta Bic), aprovada em serviço social pra UFPE..
Hoje ela tem 6o anos e trabalha no INSS de São Paulo..
(...)
Entre cadernos escolares, agenda com o nome de todos os paquerinhas do colégio,
fichas da faculdade (da minha, dos amigos e também as de todos daqui de casa, multiplique!),
agenda telefônica que sequer tinha números com o "3" na frente,
fitas k7 arranhada e,
fitas vhs (vermelhinha "Basf", com todos os filmes e clips pela metade..),
fantasias de carnaval (e o tecido original também..)
De acordo com a minha mãe, ela era "a bila" da técnologia.
Aí eu mantive a danada socada no meu quarto até ontem. Mas agora chegou seu dia..(Epa! só ela, dos vinis eu não me desfaço, aí é suicídio!!)
(Renata Santana)
Deslumbrante!!! Vc é demais, amiga! Parabéns!!!
ResponderExcluirBeijos e abraços!
kkkkkkkkkkkkkkkkkkk
ResponderExcluireu sei como é ruim se desfazer das coisas velhas, principalmente as paixões aintigas arraigadas no fundo do subconsciênte, impreguinando o presente de de ontem.
Nossa! acho que fui muito longe kkkkkk