terça-feira, 15 de setembro de 2009

Toc toc toc, Inferno Astral...


Eu acho que finalmente estou ficando adulta...
é,
sei lá..
Estou ficando chata e sem paciência pra coisas que até um tempo desse poderia tirar meu fôlego...


Algumas coisas já não estremecem e nem congelam minha barriga, e


também não estou facilmente "arrepiável" como antes.
(arrepiável: S.F. pessoa dada a arrepios, obridada!)

Não sei o que se passa. Acho que o tempo passa.

Quando eu era criança, pensava que ser adulto era ir resolver coisas no centro da cidade.

(todo adulto ia resolver coisas no centro da cidade...)

minha mãe ia,

e voltava com as contas pagas e uma sacola cheia de frutas,

pêra barata maçã barata banana madurinha, e as uvas estavam de graça!

(...descasca esse abacaxi que a gente já come depois do almoço...)

Ela ficava com o busto vermelho por conta do sol e quando eu a abraçava sentia um cheiro morno de alfazema suíça.

E quando eu a tocava podia ver a marca dos meus dedos naquela pele vermelha.

Eu ficava ouvindo ela falar que aquelas uvas tavam mesmo de graça, e

alheia a todas as promoções,

só observava a marca branquinha dos meus dedos desaparecer naquele busto vermelho e cansado.

Adulto era assim.
Adulto tinha a mão suja de dinheiro, e
não colocava no SBT quando acabava a novela da Globo.

Há tempos resolvo coisas no centro da cidade.

Muitas coisas. Ene coisas.

Praticamente todas as minhas coisas eu resolvo la. Coisas e mais coisas.

Meu encanto pelo centro da cidade ainda não acabou, mas
o local perdeu um pouco do seu mistério.

Depois das frutas baratas,
eu descobri os livros baratos, aí o centro se tornou uma espécie de segunda casa.

Hoje é a minha mãe que me espera voltar do centro.

Mas não é isso.
É aqui dentro. Alguma coisa me irrita, e
tenho certeza que não é das "coisas" pra se resolver no centro.

Uma nuvem sombria,
séria, sisuda,
dessas que a gente olha olha olha e não enxerga uma forma engraçada.
Nada.
Ela fica só me encarando.
Eu fico só encarando ela.
Ambas mudas.
Eu tento ser amiga, mas ela me corta.
No fundo,
ela me cobra.
... e eu sobro.

Eu acho que to ficando adulta.
Mas eu sou adulta!
Não é isso,
algo em mim está envelhecendo...

O que penso:
- Toc toc toc, aqui é o inferno astral, gata!

pronto,
os astros enviaram essa nuvem chatonilda pra me vigiar.

Não tem como escapar,
Parece que tudo aquilo que tem a ver com a lua não adianta correr.

Em menos de um mês eu farei 23.
Pra mim,
22 23
não muda muita coisa não. Muda não.

Mais aí vem o porra do inferno astral.

(nuvenzinhas..)

Fazer a gente entrar em criste justamente quando você se convence que ter largado a terapia na adolescência foi a melhor coisa que você fez na vida. (!!)

Não, não, não, não...
o inferno astral existe, senhores.

É como uma cólica.

Antecede uma espécie de morte interior.
Sim, porque desejamos "muitos anos de vida", jus-ta-men-te porque o aniversário é uma espécie de morte.
Você está morrendo.

Vão dizer,
-eiiiita, é mais um ano de vida porque é mais um ano de vida...

Claro, senhores.
É um ano a mais.
Mas,
também é um ano a menos.

É uma troca.
;)
Todas as vezes em que o meu eu-atento percebe a chegada de mais um outubro..
ele manda torpedos pro meu eu-demente,
Aí eu não sei sobre o que eles conversam, tramam, combinam, mas
eu me sinto estranha.

(Olha a nuvem alííí!!!!)

A minha vida ganhou outros sabores, mas muita coisa já não importa mais.

Inferno,
astral,
cólica sem remédio.
Eu não sei por onde anda a minha lua nem os meus satélites, senhor.

....e eu nem cheiro a alfazema suíça, mamãe.



(Renata Santana)










2 comentários:

  1. "O aniversário é uma éspecie de morte" digamos que você arrancou as palavras da minha boca.
    Quanto o inferno astral e a nuvenzinha ( no meu caso temporal) é uma porra dum inferno astral memo. Tirando as cólicas¹ é um inferno astral memo.


    1: homem não tem colicas né. hehehe

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  2. Cheio de graça esse Everson ¬¬' hahaha.
    Tava em falta com o blog, vim me atualizar :D
    Nossa, a crise pegou em cheio hein?
    Será que a gente não para nunca de crises?
    É na infância, na adolescência não precisaria nem comentar e lá vem a fase adulta e suas torrentes de crise...
    Superação é nome cara Renata!
    Beijooos.

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