quarta-feira, 22 de dezembro de 2010

Lembrou-se de Ambrósio?

-Como?
- Pergunto-lhe: lembrou-se do Ambrósio?
- Framboesa...

PÁ!

E, então, o ciúme dele estourou bem no meio dos seios dela. Fora aquele, para ela, seu último jogo de palavras...







(Renata Santana)

quarta-feira, 17 de novembro de 2010

Poeminha da solidão inesperada

Eu não sei se voce é de lua
que flutua
entre fases
como gases
pelo céu anil que eu te dei.


(Renata Santana)


*(Poema de 2008 encontrado hoje numa caixa de email vã e abarrotada de spam, a minha.)

domingo, 7 de novembro de 2010

De tanto mar

Maresia
Comeu meus olhos
minha fantasia
desfez o barco
que me levaria
a caminho de outro mar

E há tanto mar
Amar
Na minha ilha
Onde mareio
Sozinha
E sem saber nadar

Maresia,
Comeu
Desfez
Secou
todos os mares..

Onde Amar
Há males

E eu,
– Nau
frágil.


(Renata Santana)

quinta-feira, 19 de agosto de 2010

vida e morte
amor e dúvida
dor e sorte

quem for louco
que volte.




(Paulo Leminski)

sábado, 24 de julho de 2010

O que pensa o minuto sobre a personalidade do segundo.
Eu digo, o que julga ser uma pessoa de 30 minutos, aquele que tem 60?
Algumas pessoas não entendem minha pressa.
Mas deve ser por que na maioria das vezes eu tenho 30 segundos.. e não 60.
E preciso correr,
e por isso, falo rápido, o motor arranca e corre com as palavras perseguindo o pensamento.
Perseguindo perseguindo... aquilo que eu já formulei e estava doiiido pra sair.
Se divago,
aí,sim, ando sem pressa. Por pisando em coisas que ainda não nasceram, ou chegaram a nascer, mas decidiram pela morte.. e se foram.
Eu estou morrendo por falta de segundos, e ainda me mandam preservar o silêncio.
Quando eu cheguei aqui me subtrairam.
A boa notícia é que eu sei contar.
E cá estou.

Mas não precisam me ler agora, neste momento, podem me dar um tempo, por favor, sim?
Por que neste exato segundo eu estou bebada.
Me desculpem. Essa não foi a intenção.
Me desculpem.

terça-feira, 29 de junho de 2010

Com fuso

Já que você não vai embora tão cedo,
então cedo:

Essa sede
e sedas e cedros...


Já que você não vai.



(Renata Santana)

sexta-feira, 25 de junho de 2010

Dois pesos e duas medidas

dois pesos
e duas libras esterlinas
um dolar cruzado
e a gorjeta das meninas, sem florim
ou xelim
do Quênia às nações desunidas
sobre dois pesos
e duas medidas,
taka
pataca
de graça: ainda, o incomensurável

na medida do meu bolso furado...




(Renata Santana)

segunda-feira, 7 de junho de 2010

-Todo professor universitário deveria ser condenado à forca em fim de período.


Foi isso que eu pensei nessa segunda-feira às 11 da manhã.

E eu sei que se por um acaso resolvesse fazer um santo inquérito, a minha seita ia ganhar milhares de adeptos em dois tempos. Todo professor na fogueira! Todo PowerPoint filho da mãe no exílio!

Ah, tem dias que você realmente cansa de estar cansaaaaado....

O dia em que você encontra aquela sua amiga super querida, super fofa, vacilando no ponto de ônibus e quando está prestes a abraçá-la com toda a sua saudadee.... ai! O ÔNIBUS!!

Ter que decidir entre um abraço e um ônibus é uma piada. Mas como tudo é relativo mesmo, você está super atrasada e, com muita sorte, vai conseguir almoçar, puf puf, até uma libriana indecisa como esta gata tem que funcionar:

- CDUUuuuuu, vai subiiiir motô!!

É claro que este berro não foi meu.

Mas o brado do gasguito ao meu lado (outro maluco descabelado que entraria fácil na minha seita) foi funcional para que a minha ficha caísse (ou meu cartão funcionasse, ou meu chip encaixasse, bem, como os senhores preferirem...). E zás.

A criatura que sobe num ônibus depois de um abraço torto numa amiga que merecia muito mais, e tem que abraçar a juventude suada e imprensada do Colégio Aplicação jus-ta-men-te na hora em que a fome é um desespero ou uma criança a qual você caaaanta pra que ela pegue no sono rápido e não dê muito escândalo, aquele horário, justo aquele horário em que o sol na sua cara lembra que o seu óculos de sol quebrou há 2 meses, e tudo derrete, e tudo compete: o dinheiro amassado, a moeda que cai, o livro que escorrega, as horas que saltam, e você, de repente, tomada de assalto: - o que porra vale a pensa nessa vida?

Bem, naquele momento, somente um assento vazio acenando e sorrindo pra mim!

Pronto. Eu não precisava de mais caimentos de ficha, mas os tive. Afinal, já dizia Paulo bigodes de gato Leminski: “tudo que respira, conspira”.

Feliz por concluir que eu havia nascido para estar sentada naquele assentinho e que, então, já teria cumprido toda a minha missão na Terra ao chegar àquele pódium.... aí, bem, aí, a rádio Recife maldita seja ela faz tocar aquela música que você adorava na adolescência...

Uns minutos de epifania e você está fudida. Pronto. À forca também a Rádio Recife!

A música tem a pachorra de invadir o seu único psudo momento de prazer naquele assento quente e sujo só pra dizer que você está perdida. Só pra dizer o quanto aquele assento é quente e sujo. Só pra fazer você lembrar da canção, de quando você a cantava e de tudo o que você acreditava há alguns anos atrás. De tudo o que você abandonou...

Aquela dor pelo tempo em que você a cantava junto com a abertura da novela, a dor de lembrar que você gostava de novela e nunca mais teve essa regalia boba, ai, a dor pela perda do ócio criativo, pelos amigos, aqueles, que você jurava que iam ser os padrinhos do seu casamento e do batizado dos seus sete filhos, aquela saudade atravessada na garganta e atropelada por um caminhão de compromissos, exatamente aquela... em que parte da vida a gente começa a se trair?

Se o ônibus balançasse meeeenos eu tinha me rendido e feito aquela Lista do Osvaldo(Montenegro). ps: um amigo meu fez e nunca mais voltou a si...

Forca à Rádio Recife e ao set list dela e forca também à pessoa que agiu de má fé (tenho ctza) e escolheu essa música dessa década para tocar justo neste horário das grandes desilusões, e se foi alguém que pediu por telefone (se é que ainda existe isso) forca a ela e todas as suas gerações.

Em 25 minutos de percurso, conseguiram arrasar as minhas certezas e toda a agenda arquitetada para uma segunda-feira cheia de vigor e sentido transformou-se num amontoado de obrigações que se empurra com a barriga. blah.

O almoço é: três bananas. O atraso: 28 minutos. Mas você ainda sorri para os colegas e preceptores de estágio, coordenadores e suas reuniões em ciiima da hora em que você, finalmente, ia largar. A única hora legal do dia e querem boicotar... a música na cabeça, você perdida, o dia sem sentido, o cabelo invadido pelas pontas duplas, e neste momento a depiladora me liga: - você morreu?


Forca! Comecemos pelos professores, depois a rádio Recife (e não me peçam pra dizer qual foi a música que eu não vou dizer) e, só então, retorne a ligação da mocinha da depilação (agora que você sabe o que dói de verdade nessa vida) e tenham um bom dia.


(Renata Santana)

terça-feira, 27 de abril de 2010

E por falar em mangaba,

senhores, eu apresento para o vosso deleite um dos meus poemas preferidos do escritor recifense Biagio Pecorelle.



Na cama, depois da praia.

Eu tramo hiatos no relicário do destino
talvez para adocicar a ação pétrea do tempo
talvez apenas para o adornar de miçanga
mas tu me sangra, tempo, sempre,
pela veia nau da nostalgia...

Eu lembro de Jandira,
sentada no beliche
prendendo cabelo e
fuçando na revista a
exuberância de Jocasta -
melhor dizendo, a lascívia de Vera Fischer.

que pena,
Jandira era muito mais.
coçava minhas cataporas
trazia pirulitos de helicóptero
pena que...

Minha bazuca de ovos falhou
já perto do céu,
na cobertura do edifício.
meu irmão chegou e tomou meu juízo pela orelha.

E Jandira?
o que fez?

calada estava
e espanando os móveis da sala
ficou.

se a mocidade fosse um copo de suco
(qualquer suco!)

colaria sempre um lábio no outro,
feito mangaba...
feito Jandira
na cama, depois da praia,
vacilando de maiô.

(B. P.)




___________________


Diga mais nada.
(Renata Santana)










terça-feira, 20 de abril de 2010

Feito mangaba

Já alguns anos eu desaprendi a escrever beijo. B-E-I-J-O. Alguma coisa me incomodava nessa palavra. Não sei se era esse excesso todo de vogal uuggghh que a torna uma palavra.... feia. Primária. Pobre. nhen. Sem graça.
Só o contexto a salvava.

Lábios, por exemplo, é muito mais macia e equilibrada. É sensual e não precisa gritar!
Lábios sussurra, beijo grita.

Beijo é descontrole mesmo.

Os gregos possuiam um vocabulário carregado nas vogais. E eu pondero, "aii, o beijo grego devia ser uma coisa louuuca" (se bem que eu prefiro a pegada dos romanos..hihi) enfim.. beijo por beijo zás: eu implicava!

Beijo é cheia de vogais, mas quem fala alto são as consoantes.
B e J são gri-tan-tes nessa palavra.
Taí, as vogais são maioria, mas ainda assim cedem lugar pras consoantes. bobas muito bobas.
Taí mais ainda,
beijo cede. Cede o tempo todo. Beijo é gasguito e desequilibrado.

E foi aí, senhores, que eu mais uma vez me surpreendi comigo mesma. (e me desculpem a redundância, é só pra ilustrar)

Já cheia de escudos literários, implicância renitente e infantil fiquei de boca aberta para beijo.
Sim, refém. Por alguns segundos refém.
Ele veio desesperado como só ele pode ser,
desequilibrado, correndo, cabendo dentro do frêmito e, os lábios como grandes gentlemans, calaram-se em respeito a loucura alheia.

O beijo é um bandido covarde no jardim de infância.

Eu me calei quando ele me assaltou, e permaneci calada durante a noite inteira.
O beijo foi roubado.
Pedi desculpas, sinceras desculpas à palavrinha. Entendi finalmente porque grita, porque vogal, porque cede, meu deus, eu havia cedido também. Eu cedi pro desequilíbrio. Pro teu beijo sem gênero.
Indefenido.

Eu só sei, senhores, que agora não há mais ranço. Não há ranço com beijo.

E esse beijo que veio gritando e me tomou de assalto num Cais urbano lotado, me deixou, naquele momento, desarmada. Sem ranço.
Entendi beijo, entendi, o porque das suas consoantes irritantes. Zunindo zunindo dentro do ônibus vazio.

Sem ranço algum.
Só restou os lábios e sua cordial comunicação interna. Colando colando entre eles.
Os lábios colam. Os lábios colam sozinhos e aos sussurros. Suco de mangaba, eles me dizem.
E eu escuto os sábios.

Eu escuto o lado sábio dos lábios e repito,
suco de mangaba, o teu beijo é.

É doce, cola e permanece.

Ah, beijo, coisa boba, finalmente, entendo quem tu és!



(Renata Santana)

sábado, 17 de abril de 2010

Notinha do Caderno C diz

que o programa Ensaio da TV Cultura mostra o lado intimista de Fernanda Takai...
e eu me pergunto,
e quando ela mostrou o lado NÃO intimista dela??

domingo, 11 de abril de 2010

Eu lembro da Rizzo.

Poderia me lembrar de muitas fora a Rizzo. Tenho vários exemplos. Mas por alguma razão, hoje, somente a lembrança do dilema da Rizzo bate latente na minha cabeça. Talvez por ser um dilema musical. E música quando gruda, gruda.

Pelo motivo real em cima de fatos ficcionais é que afirmo a sentença:
nós preferimos as vilãs.

E por isso, na primeira oportunidade, fazemos cara de má na frente do espelho e tiramos dezenas de fotos com a nossa Sony caseira.... Mas,

Who’s bad?

Ser a mulher inatingível cansa. Cansa a beleza.

(E deve ser por isso que a madrasta má da Branca de Neve é obcecada em voltar a ser bela)

Ufs.

Já disse e reitero: É ótimo bancar a vilã, porém, o coração não usa salto Prada.
E quando percebemos o pobre coração correndo descalço é hora de você, a dona dele, também pendurar as chuteiras. Tirar o salto é descer do topo que nos torna inatingível.

Alguns encaram como uma derrota, como eu, até então. Mas a novidade, senhores, e também a dica que lhes dou, é: aceite o seu coração apaixonado.
E não só isso.
Aceite a sua situação de total fragilidade porque ela faz parte do pacote.
O pacote do coração apaixonado é cheio de surpresas. Viva cada uma delas.

Pagu, a imbatível e charmosa (e pegadora) militante comunista, já no começo do século XX dava pinta de mulher inatingível, e se autodefinia, companheiros, como
“Uma mulher de ferro com zonas erógenas e aparelho digestivo”.

Onde está o coração dessa moça? Escrevendo para o Partido na Rússia?
Claro que não.
Tava batendo, apaixonado por todos os homens que amou, mas com um salto plataforma que o deixava camadas e camadas acima da vã superfície.

Ai, como eu quero a vã superfície. Afinal, viver como que nas nuvens nos torna distantes da realidade. Do real. Do tangível.

Lembram do pega-pega congelou? Só saíamos do estado estático, do gelo, da inércia, quando alguém nos tocava. (Ahh como são felizes os exemplos infelizes).

É nisso que eu me lembro da Rizzo. Pobre Rizzo. Na canção-tema, curtinha curtinha, que cantava na trilha chiclete de Grease, sim, aquele musical que assistimos 100 vezes na Sessão da Tarde, ela, a garota má, tentava se equilibrar no salto.

Rizzo, meu deus, logo Rizzo. Rizzo sem vestido de bolinhas. Rizzo sem uma franja boboca na testa. Rizzo acima do bem e do mal, confessava solitária em sua canção que seria capaz de fazer inúmeras coisas improváveis e impossíveis, como ser um broto caseiro e certinho, mas que jamais, nunca, nunca, seria capaz de chorar na frente do amado.

É mais possível fazer o impossível do que derramar as suas lágrimas na frente dele.

Demonstrar fraqueza? Jamais!

Lá lá lá mas essa lua, mas esse conhaque botam a gente comovido como o diabo lá lá lá. É.
Drummond fica fraco e põe a culpa na lua e no conhaque.

Porque não assumir?!

Se fugimos desse estado de entrega e suas cartas ridículas é porque algo nos amedronta.
Só fugimos daquilo que nos mete medo. Fugimos do novo e do desconhecido.
E o medo é a não-vida.
O coma.

E o outro lado? O outro lado é aquele menino da escola com quem você repartiu o lanche, mas depois que rolou um beijo naquele dia, no recreio, ele passou a se esconder de você. Inclusive, fiquei sabendo que mudou de colégio.

Nenhuma sociedade é mais medrosa do que a moderna. Os homens e mulheres modernos.

A síndrome da Regina Duarte está, finalmente, me deixando.
Eu não tenho mais medo.
Eu não fujo mais.
E lamento muito por quem ainda o faz.

Decidi, senhores, decidi que não tenho mais medo da entrega.
Tiro agora o salto para quem chegar.
Quem chegar vai me encontrar descalça, os pés felizes vivendo bactérias e anticorpos. Acendi a luz e, vejam só, não há monstros debaixo da cama. Quero outra vez olhar e, tudo claro, ver que embaixo da cama só resta mesmo um par de saltos. Uma plataforma gigante, gasta, puída, fora de moda e que não me cabe mais.
Não me diz respeito.

Tantos anos apaixonada pela Luzia de Drummond (“tão alta que o beijo não alcançava”), agora, me parece vital deixar o quarto escuro da UTI, sem seqüelas de traumas, quedas e feridas anteriores, para me apaixonar por tudo aquilo pelo qual meu coração bate.
E bate livre, sem débitos e pagando pra ver. Afinal, viver a prestações pode sair muito mais caro.



Vídeo da Rizzo no link,
http://www.youtube.com/watch?v=RGUfn930F0Y&feature=related



(Renata Santana)

terça-feira, 6 de abril de 2010

Era uma segunda-feira.

Uma segunda-feira particular em um mês qualquer do ano de 1999.

Havia chovido durante todo o fim de semana. Chovido tanto. Chovido muito. Chuva sem trégua. Chuva para uma cidade despreparada e para pessoas sem guarda-chuva. Tempestade em algo como o outono ou o verão. Não importa. Estava fazendo sol, mas de repente chovia sob flores e frutas maduras. Mas nada realmente passou a importar, e todos começaram a voltar mais cedo pra casa. Ou nem chegar a sair.

Muita chuva.

Muita chuva, minha mãe. Volte a dormir, minha filha...
Não, eu não fui à escola. Abracei o frio e os desenhos animados na TV. Minha mãe também não foi trabalhar e assistiu toda programação da manhã na minha cama. Aquela segunda não corria, somente deslizava oscilante pelo vidro da janela do quarto.
Ora fúria, ora resignação. A TV vacilava, chiava, mas nada importava naquela segunda-feira de leite com Nescau no copo colorido. Nada.

Devagar, toda família foi retornando mais cedo pra casa.

Ao meio-dia no meio do dia da chuva do desmantelo da barra da calça molhada do expediente não cumprido, a minha irmã voltou pra casa. Voltou com um jornal nas mãos e replicando alto e chocada o que a manchete dizia: Prefeito declara estado de calamidade pública!

E repetiu:
Minha gente, o prefeito declarou estado de calamidade pública, ninguém deve sair de casa hoje!!

...

Ca-la-mi-da-de pública.

A palavra caiu como uma luva em minhas mãos frias. Aqueceu todos os dedos vãos.

Calamidade pública. Aquilo me deu um conforrrrrto. Um alívio. Uma vitória.

Era o dia em que numa segunda-feira comum, todos estariam em casa, surrealmente almoçando juntos, sem nada pra fazer. Se fosse num sábado de sol, não estaríamos todos la na sala, assistindo filme catálogo em plena hora do almoço.
Mas era uma segunda.
Era uma segunda-feira e a cerâmica estava fria, todos estavam calmos com roupas de casa num estado profundo de Calamidade.
Estado de Calamidade, ela disse. Nada me deu tanto conforto. O dia seguiu.

É.
Vieram outras segundas e outras e outras. Também vieram muitas chuvas e hoje à noite, tantos anos, eu me lembrei daquele dia em 1999 e agradeci.


Agradeci porque precisei acordar cedo para ir estudar. Agradeci por que precisei trabalhar logo em seguida e trabalhei muito o dia inteiro e fez tanto calor, mamãe, tudo bem? Ta podendo falar agora? A senhora está bem? Oh! Que calor fez hoje, né?! Ah mami, saudades, te ligo depois...
e trabalhei e voltei pra casa à noite super cansada e não tive tempo pras coisas que eu gosto.

Agradeci muito por isso.

Eu agradeci quando vi o Rio hoje pela televisão.



(Renata Santana)





Calamidade pública: Chuva desabriga cariocas. Imagem: Último Segundo.

domingo, 21 de março de 2010

MEU DEUS.....




o blog!


...eu disse quando acordei de um sonho de um susto de um surto, e zás. Um pânico pinicando no colchão e pinicando os meus olhos abertos e mastigando agulhas nos meus olhos incertos, meu deus, o blog!

Lembrei do blog e dei um pulo. Acordei espetada e quiquei pela casa atônita e acentuada na tônica. Gritando.
Eu esqueci e foi como lembrar da filha que eu não fui pegar na escola, e agora
já se passaram vinte anos.

Tudo aterrado, um shopping no lugar.

Minha filha a minha filha a minha filha, eu vim buscar a minha menina mamãe se atrasou se esqueceu se lembrou, e

está aqui.

Estou aqui pra pegar nas vossas mãos, senhores, eu vou alí, sim, mas eu volto.
Fui comprar pão, flores artesanais e remédios para as vias nasais, e tudo o que já não importa mais.

Entende, minha filha?! Percebe que mamãe não faz por mal? ela nunca faz, deite aqui, e me diga você!

Sabe la onde fui, p'ronde andei.

É domingo, tanto calor, nada faz sentido. Me embaralho se te pus de castigo ou se não fui, mesmo, te buscar na escola. Depois do sinal.

Ai, menina menina menina,
mas não fiz de propósito, e quando, essa manhã, eu te acordei e você não estava la eu pensei.

Quando percebi eu acordei, eu eu eu acordei. Tudo doía pinicava e ardia os meus olhos já não viam, mas tentaram procurar.
Ai, menina, foi.
Foi.
vinte anos e você me esperando com o nariz constipado e a lancheira no colo.

(e não comeu as bananas porque?!).

Hunf,
venha, deite, deite pois agora eu acordei,
acordei, senhores, acordei. Acordei e quiquei da cama até aqui. Acordei e quiquei da cama até aqui eu acordei e quiquei ate a-
qui qui qui......
aí,

(Renata Santana)




domingo, 21 de fevereiro de 2010

Time Code.

Saudade é cama vazia
Vadia à noite
e de dia,
pernas atropelam horas
É cedo, não vá embora!

Saudade,
As horas desforradas
e as pernas pontuais, e
ingratas,
Já deixam meu caminho.

Um segundo,
E já és, amor, de todo seis e meia, e
A madrugada que te despenteia, convidando
pra voltar às onze e quinze...

Saudade,
Deita ao meu lado e se demora
Eu volto a fita, eu faço hora,
Eu te soluço,
eu me procuro no teu pulso,

Mas você já se atrasou...



(Renata Santana)

quinta-feira, 18 de fevereiro de 2010

Você viu o meu óculos por aí?

Sabem o que é o pânico ortográfico?

Peraê que a terminologia merece até letra maiúscula: Pânico Ortográfico!

Pois é. Quatro dias de folia rasgada e muito desmantelo. O cidadão do jeito que o diabo gosta, sem horário, patrão, vendo o vizinho gostosão voltar da rua todo dia semi-pelado e bêbado (facinho-faciinho) numa fantasia de pirata, todos os dias assim, de bobeira, nesse frege do carnaval, quando de repente..
pimba!
... voltamos à vida real.
Aí haaaaja calça jeans, sapato fechado, elevador, camisa quente e se eu usasse gravata eu diria gravata.
Não tem quem não volte a trabalhar meio surtado.
Pois foi, senhores. Foi aíí que eu fui atacada pelo Pânico Ortográfico.
Ressacada, mas muito bem disfarçada com meu batom vermelho-fechado-sou-uma-mulher-séria, entrei em pânico no ato de escrever a palavriiiinha "óculos", hoje, durante o trabalho.
MEU DEUS!
É óculos! ó-cu-los, óculos, óculooooooooooooooooooooooooosss! Mil vezes óculos!!
Não saiu.
E fiquei olhando o papel na minha frente. Aquela folha cachorra em branco.
Como é que se escreve óculos, meninaaaaaaaaaaa!!!
Cristo cristo cristo!
Madeira do Rosarinho assoviava como um bezouro quando entra no ouvido da gente.
Frevo frevo frevo,
Óculoooos, criatura! Escreve óculos, vá. Vá, garota, óculos! "O homem atràs do bigode é sério simples e forte, quase não conversa, tem poucos, raros amigos, o homem atrás dos óculos e do bigode" isso mesmo, óculos óculos, a ressalva de Drummond, isso isso isso, vai vai vai.

Não adianta.

Era o Pânico Ortográfico.

Lembro de ter presenciado um Pânico alheio. Pior! Quase fui vítima do Pânico alheio.

Faculdade. O coordenador do curso de jornalismo além de ser um super gato lecionava a cadeira que eu mais gostava, comunicação comparada. Pra mim, ele era O cara. O boffe ia da merda do cavalo da literatura da pior categoria existente ao caviar da mais la cream de la cream das letras.
Eu babava.
Porém,
um dia este professor escrevia algo no quadro quando se virou para a minha pessoa sentada na primeira cadeira, e perguntou:
-menina, me deu um branco terrível, lápis é com "z" ou com "s"?

Eu amarelei!

Ele se voltou pra mim com um ar tão desesperado, porém, tentando disfarçar tudo com um sorriso de "er.. essas coisas acontecem" "nós semo gente como a gente", que eu por pouco não percebi que, no fundo, lá no fundo dos olhos dele, estava instaurado o Pânico!
Mas ele era O cara e eu amarelei tão feio como só uma garota de recém completados 18 anos pode amarelar, e a única resposta que pensei foi:
- ai, eu não sei! Nunca escrevi "lápis" na minha vida. Nunquinha, juro!

Foi. Mas antes que eu dissesse qualquer disparate que envergonhasse Tia Tânia, a talibã da Alfabetização da turminha de 1990,
o professor piscou duas vezes, fez um olhar concentrado, distante, depois voltou a sí, e eu percebi a minha imagem voltando a se formar na frente dos olhos dele. Ele então sacudiu os ombros e disse,
-Ah, hahaha, que branco,!

Assim mesmo, sem cerimônias, foi até o quadro e zás. LÁPIS.

Ele disfarçou, claro. Mas ainda assim, eu vi o Pânico sacudir a sua íris negra para lá e para cá.
Aquela inquietação do olhar que só o desespero traz. A procura de uma saída. Quando falta luz no beco das palavras, nem a lamparina dos mestres. Certo, teacher?

Como todo apagão num estabelecimento com gerador é passageiro, afastei Madeira do Rosarinho uns 5 KM do meu cerebelo, e tal como o professor, pisquei duas vezes, respirei e zás.
Apaguem as velas, ninguém morreu e a luz voltou. Vamos dar uma festa!

ÓCULOS!

A palavra apareceu macia e à vontade,
rebelde, foi alí mais já voltou... Boa filha. Venha cá, pegue na minha mão. Pronto.

Lembrei novamente do professor e tive vontade de rir. Este é o típico problema que ajuda muito quando você lembra que ele também acontece com os outros! Ajuda a não morrer por conta dele.
É igual a carnaval,
vem, te deixa Off, surtado, e passa rapidamente tal qual um encanto..

.. a diferença é que não deixa saudades!




(Renata Santana)

sexta-feira, 12 de fevereiro de 2010

Stop!

Caros senhores,
este blog está entrando em recesso apartir de hoje, mas retorna completamente cheio de cinzas na próxima quarta-feira...



"É carnaval, porra!"

(Renata Santana)

domingo, 7 de fevereiro de 2010

Senhores,
A poetisa queridíssima gostosíssima Mariane Bigio está realizando um doc sobre a poesia Pernambucana, o "Cardápio de Poesia".
Juntamente com o ponto de cultura "Interpoética" (leia-se, a poetisa Cida Pedrosa e o Sennor Ramos, que também mantém um site homônimo) a produção pretende mapear a cena literária (detesto escrever "cena literária", mas não encontro outro nome agora) a partir dos depoimentos dos escritores.
Escritores de todos os gêneros e graus.
E tiveram a cooooooragem, a pachorra, de convidar esta gata para o vídeo.
E eu fui.
Pintei as unhas e fui.
Sem livro autoral publicado, também não tenho lenço ou documento, e perguntei se eles sabiam o que estavam fazendo... espero que saibam!
So, além do meu processo criativo, falei sobre a importância de desfazermos essa ideia secular de que escritores são sempre seres coitadinhos. Gosto disso não. E espero que tantos projetos realizados amiúde e voltados à literatura consigam desesteriotipar(sic) a classe!!
Haja vista o exemplo da FreePorto e tudo o mais..
Escrever, mesmo quando é uma brincadeira, é um ofício de fé.
Só se soa se se sua.


Presentes também em "Cardápio de Poesia", os arretados Gerusa Leal, Biagio Pecorelle, Malungo, Lara, Silvana Menezes, Pedro Américo, e outros que depois eu atualizo pq me deu um branco!!:P
Adoro iniciativas. E parabéns aos realizadores de mais esta.


Making Off no Campus da Unicap

quarta-feira, 3 de fevereiro de 2010

Josefa, para onde?

Oito horas da manhã e o sol já está pentelhando. Cedo. Muito cedo.
Wake up, silly girl...
han? oito horas da manhã? tarde. muito tarde.
Rela, mazela!
Ohhh... ajuda pensar que sou uma professora de balé clássico, rica, blasé, tenho carro, trabalho poucas horas, largo cedo e ainda em tempo de pegar a mostra de filmes do cinema expressionista alemão. lazy lazy laaazy, Jane. Preparo o café levitando pela casa e tudo na cozinha obedece a dança dos meus delicados gestossshshsshmmmmhmmhm....... DEUS!
Vou perder a hora! tanta coisa tanta coisa!

A água não ferve, o ovo não frita, a pia não pinga. E quem escreveu o contrário vai me levar uma bifa.
(É, Paulo, até você!).

-deus, em sua infinita misericórdia, protegei as garotas que comem em pé.
e, principalmente, às que comem em pé e calçando às sandálias.

Dia dia dia. porque não confessa que me odeia. não vai com minhas fuças. O ônibus queima a parada e eu ando tão sensível que os olhos lacrimejam. O óculos escuro esconde. esconde bem.
No escuro é sempre mais fácil chorar.

Calor. Um verão sem praia ou piscina (ok. mangueirão também serve) não é verão. É inferno.
Ônibus. os olhos procuram o lado da sombra. dark? nada. somente luz. A mulher na minha frente fala do rim do cunhado. não fala. disserta. eu e o rim de Ronaldo. íntimos às nove horas da manhã.
Arhh, quer saber? danem-se os orientais.
Os orientais e este papo de estar 100% presente no corpo, no presente. Concentração no que acontece ao seu redor. Foda-se. Vou ler.
Arranco o livro da bolsa, a minha cartola. Sol nas linhas e nas entrelinhas. Primeiro catabiu e o livro voa da minha mão e se arrebenta no chão ao lado de um jornal(sic) da Universal. Urfs.
Não podia ter sido o rim do Ronaldo? mas, nãao..
Apanho o livro e ele me fita desapontado.
- Ei, não precisa me olhar desse jeito, meu dia também não está legal, ok?

Parada, desce. Desce, porra. (err.. O que aconteceu à bailarina?)

Passe-fácil. Ah, esqueci, agora é VEM. Eu prefiro dizer Bilhete Eletrônico. Tem menos a cara de estudante do GP e caneta com seu nome a 1 Real.
Bem, tudo faz fila do mesmo jeito. amontoado. As pessoas adoram se amontoar.
Crianças fazem montinho umas nas outras. Adultos se amontoam ouvindo 0 jogo do Sport.
"O brasileiro é gregário por natureza" (esqueci o autor e não estou a fim de procurar)

Praça Maciel Pinheiro. Futum. Um homem com um envelope de currículos escarra do meu lado e olha pro relógio.
Preciso passar na casa da costureira pra provar a fantasia. Ahh, sim, as fantasias de carnaval.... Isso anima um pouco. Oh, sim.
"A gente trabalha o ano inteiro
Por um momento de sonho
Pra fazer a fantasia
De rei ou de pirata ou jardineira
e tudo se acabar na quarta feiraTristeza não tem fim
Felicidade sim"

Trabalha o dia inteiro e leva muito sol no quengo, pensei.

A costureira não atende. Dei a volta na praça em vão. Quanto tempo perdi? Vou seguir. Vou seguir o coelho. Eu devo ser mais neurótica do que ele e a Alice juntos.
Mas também se eu dormir no ponto a tartaruga me passa. aí vai ser muita humilhação.
Passo pela esquina do teatro. ai, saudade de sentar no hall do teatro do Parque e esperar acontecer, tipo assim, cara, alguma coisa legaaaal.
Volto, vou entrar e pegar a programação do mês. Volto, em nome dos velhos tempos, volto.
Dou de cara com a Penelope Cruz. E eu pegaria lindo a Penelope Cruz. Abrazos Rotos. Saco! Como eu ainda não vi esse filme? me odeio. Em outubro tava em cartaz num cinema de São Paulo e me animei para assistir com Ana. Lembro-me bem. Na volta a gente assiste, dissemos. Mas logo depois me bateu mó vontade de assisti-lo em Recife, comendo pipoca, e de mãos dadas com uma persona..
..nossas mãos peguentas da pipoca doce.
Mas voltei à Recife faz 3 meses e nem vimos nem nada. bluft.
Odeio meu lado romântico. Saí do teatro do Parque. Calor. Peguei uma agenda e anotei:
Matarás e roubarás, pero não serás mas romântica (Tá ligada, doida?)
Calor. Apois tá. Essa semana, se ainda der, eu assisto.

Cristo, pai. Os ingressos do baile!
Avenida Rui Barbosa. Andar da Conselheiro Rosa e Silva à Rui Barbosa. Chiei.
Deus, Preciso comer. muita náusea.
Bandeijão bandeijão bandeijão, cadê o bandeijão? tenho que economizar pro dízimo à Momo.
"A gente trabalha o ano inteiroPor um momento de sonho"
lálaálálálálálálálálálálálálálálálálálálálálálá.....
Cadê os porrra do bandeijão?!

-han? como? duas opções de carne? ok. ok. Ei, Preciso lavar a mão, onde tem um... han? não tem água? sei.
ok. ok.

-Deus, em sua secular misericórdia, protegei às garotas que almoçam sem lavar as mãos.
Te devo mais essa! amém.

A Avenida Rui Barbosa não existe para quem desce na Avenida Rosa e Silva.
Tudo é luz. nada se vê. nada se sabe. mistério e calor. a franja derrete sob a testa.
O palhacinho do Detran faz uma piada e buzina na minha cara. Chééééémmmmm!!
-viado.

Puf puf puf, museu do estado, quatro pontos, gata. Continue a nadar.
puf puf,
Posto de Gasolina. Petrobrás. SJ.
-SJ?
-SJ.
-Duas. meia. débito.
-Tks, princesa...

(Princesa?)
Deus, não precisava. eu não pedi cantadinhas de cafuçu... Tá vendo que o Senhor não me entende? corte.

UFSss, os dois ingressos!! Gata wins! Pontuação arrebatadora!
well, e
fazer o caminho de volta...

A Avenida Conselheiro Rosa e Silva não existe para quem desce da Rui Barbosa.Tudo é luz. nada se vê. nada se sabe. mistério e calor. a franja derrete sob a testa....

Trabalho. Caixa de email. Mensagens. Prazos. exclui esse, marca esse, esse exclui definitivamente, esse aqui depois, esse não faço ideia, Em Sorocaba os diplomados conseguem diploma profissional, e
han?
-Hi! books books books, American English file one ou two? Yes, na SBS, welcome! Jogo? não temos esse jogo! Hi! Welcome to the library, guy! Yes, Library and Multimedia Center!
O roteiro? bem eu, haan, telefone toca. Aluno. aluno perdido. pai, mão, vó, responsável, não, este ser livro antigo, nós ter traduções mais recentes, han? quem, eu? ya, Oscar Wilde, ya, mas este ser adulto, no no no.... não pode. não. nãaao pode, tá, xau. -Deus, preciso de um café bem forte.
Telefone, yes yes, mim ser Renata, yes. what, meu rei?

-Deus, cancela, preciso de um homem.
Faz assim, manda os dois ao mesmo tempo.

Do you love me?
so so. (deus é evasivo...)

Saída.
Me olho no espelho e a primeira palavra que me vem à cabeça é: espantalho elétrico.
as seguintes não são tão animadoras,
vencida, farrapo, bagaço, olheiras, sobrancelha assanhada.

Porque não nasci na Russia numa família de bailarinos?

Pensa nos sonhos, se agarra aos projetos, não se deixe vencerrr.
Mas não penso,
somente penso,
no porquê de corremos tanto...

II round,
a volta à costureira.

A noite me assopra os cabelos aos franganhos e fiapos, eu também me assopro e assopro pro vento. Pff...
Fico assoprando dentro da hora marcada. Pfff...
Ele chega e me beija, não me beije. estou podre, alerto.
Ele me abraça e volta a beijar. dessa vez com mais cautela..

De volta ao contorno da praça, o escarro do homem fritou na calçada, mas a costureira chegou.
Agulhas e provas,
provas e prazos
prazos e,
fome.. muita fome...

(Deus me concede o homem e substitui o café por uma proposta de vinho tinto à dois)

Proposta sedutora, mas
tarde demais, Ó, pai..
God, me faça dizer não. Preciso de casa, mais trabalhos, mas prazos at home.

-nao. hoje nao. hmmm

(Em seguida, anotei também: Pior que ser romântica, é ser uma moça responsável!)


Mais ônibus.
dois.
Todos no coletivo têm cara de desilusão.
Mas, claro, as dos que estão em pé consegue ser ainda pior...

Eu estava em pé.

Mais uma vez a pergunta: porque corremos tanto? O quê vale tanto à pena?

Ônibus linha de bairro.
conhecidos sobem e descem sem parar. Alguns amigos de outrora me perguntam,
-Ei, o que tens feito?
- fmfphfhpfmhfh

- E aí tás bem?
- hurrpffffghghghg

- Me conta as novidades?
- ...............................................................................



Casa. Casa. Casa. Casa. Casa.
e Ninguém em casa...
Advinha quem veio para o jantar? Eu. somente eu.
Jantar Lavosier,
nada se perde nada se cria... Ok. ok.
tomate, pasta de alho, ("Essas tolas acham que o alho empesta" ) dizia Dona Flor, defendendo o tempero. Preciso de tempero. bastante.
Panela no fogo.
Chuveiro tirando o sal do corpo. Destempero. bastante.

-Deus, em sua escalafobética misericórdia, protegei as garotas que lavam, pacientemente, a calcinha embaixo do chuveiro...

O cabelo pinga pelo chão, a camisola é fina e se ensopa, a brisa entra, nuca, frescor, muito frescor, a comida quente, a música, ya, Cole Porter for a good girl. ya, o molho escorre, e o piano o piano o piano também se derrama...
Oh, Niina..
"my baby just care for meee.."

who? who just care for me?

- me.


Sozinha cuidando tocando em frente, mas,
Porque, Para onde, Josefa?
A música, o prazer, o descanso, a mansidão, o lar, nada mais importa.


O que vale à pena nessa vida sempre foi a furtiva hora do recreio.



(Renata Santana)





Adendo:
Lembro do Cebolinha, num VHS dos anos 90. Toda vez em que dizia "Ahh, que dia malavilhoooso", não dizia. Simplesmente não conseguia terminar a frase. Algo sempre acontecia. Vazos caiam em sua cabeça. Havia uma boca de lobo na rua, cachorros latiam, e outros empecílhos... Na vida real não é tão diferente.

segunda-feira, 1 de fevereiro de 2010

Re-contando os amores.

Senhores, morri!

Brincadeira,
mas quase morro mesmo! De felicidade, quando soube que o livro "Contos de amor rasgados" da Marina Colasanti, foi reeditado pela Editora Record!

Vou falar de novo,

A Editora Record acaaaaaaba de relançar "Contos de Amor Rasgados", isso isso isso!

Sabe aquele livro com o qual você tem relações amorosas? Pronto.

Este foi o livro que há 7 anos me deu um diagnóstico:

Eu, Renata, não sou louca.

Oi?

Sim, sim, sim, tá bom, eu sou um pouquiinho louca, sim, nhem pra vocês :P.

Mas,

até os 16 anos, eu acreditava que a minha literatura não era literatura.

Ou era, mas era preguiçosa.

Haja vista que eu gostava de escrever histórias, mas o ponto final-finalíssimo sempre vinha depois da quarta ou quinta linha.

Numa época da sua vida em que os professores de literatura fazem do José de Alencar o Best Seller da sala de aula, as nossas referências ainda são rasas e, eu confesso que aprendi muito mais com sebistas da Rua da Roda do que com as listas dos "mais pedidos" do vestibular.

O problema era lutar contra Perí, tranquilo e infalível (até hoje).

Pois bem, quando "Contos de amor rasgados" caiu na minha mão, num sebo e ao preço de 5 pila, eu li o primeiro conto e quis morrer!

A narrativa de Marina em Prosa-Poética construía um livro de 200 páginas recheado daquilo que eu conheci depois com o nome de mineconto. Havia contos com até 4 linhas!!

Eu não era louca, nem preguiçosa e escrevia minecontos.

Claro,

aos 16 anos você é louco, irresponsável, inconsequente, tarado, pisa muito na bola e tem preguiça crônica e sono de múmia.

But,

aprendi com esse livro que este diagóstico não se aplicava necessariamente ao fato de que eu gostava de contar um história em poucas linhas ao invés de seguir o padrão arcadista.

Pronto. Descoberto isso, dedada com gerêrê pra todo mundo.

Dane-se o Peloponeso!

Se tudo isto tivesse acontecido comigo hoje, eu já teria dado a dedada com gerêrê , mas quando o sujeito é adolescente, ele precisa de uma identificação. Um mártir, ou coisa assim.

Numa edição da Rocco de 1986 - o ano em que eu nasci, aliás hehe- e com uma capa simples e curiosa (sugestiva, eu diria),

eu não poderia deixar de reproduzir aqui uma outra "história" dentro da história do livro:

A dedicatória.

Algumas dedicatórias nos contam tanta coisa tanta coisa, que é como se histórias paralelas atravessassem o tempo, alí, dentro dos livros, arrastando-se pelos sebos e passando de mão em mão.

A dedicatória do meu exemplar é assinado por uma mulher à flor da pele chamada Ana.





Às vezes, me pego pensando,

"por onde andará, Ana?" "O que terá acontecido àquela paixão? será que durou somente mais umas duas idas ao motel, naquela hora do almoço, onde tudo é fuga e fogo,

a conta paga, os corpos entregues, o relógio, o segundo turno no trabalho, a volta, o sol, a saudade...

Ou não,

Ana, então, se casou com aquele homem cujo toque era acesso fácil para os seus túneis de pulso e impulso,
teriam casado e tido filhos e, hoje, o contato não é nada mais do que uma pensão alimentícia depositada no Banco do Brasil?".

Nunca vou saber.

Por isso, senhores,

O novo lançamento de "Contos de Amor Rasgados", na Livraria Cultura por 30 reais, é uma grande oportunidade de rever esta obra da Marina - sempre um pouco apagada dos holofotes literários, talvez até sempre na sombra do seu marido, o poeta Affonso Romano de Sant'anna - bem como também para inspirar e servir de presente e atestado para outras paixões, como a de Ana.


Ai!


*Segue abaixo exatamente o primeiro conto que li do livro, em pé, numa daquelas apertadas lojas do sebo, acho que foi a do Augusto, mas não importa.


Por Preço de Ocasião
(Marina Colasanti)
Comprou a esposa numa liquidação, pendurada que estava, junto com outras , no grande cabide circular. Suas posses não lhe permitiam adquirir lançamentos novos, modelos sofisticados. Contentou-se pois com essa, fim de estoque, mas preço de ocasião.
Em casa, porém, longe da agitação da loja - homem escolhendo mulher, homem pagando mulher, homem metendo mulher em saco pardo e levando às vezes mais de uma para aproveitar o bom negócio - percebeu que o estado da sua compra deixava a desejar.
"É claro", pensou reparando na sujeira dos punhos, no amarrotado da pele, nos tufos de cabelos que mal escondiam rasgões do couro cabeludo, "eles não iam liquidar coisa nova".
Conformado, deitou-a na cama pensando que ainda serviria para algum uso.
E, abrindo-lhe as pernas, despejou lá dentro, uma por uma, brancas bolinhas de naftalina.
.
*Ana, comigo há tanto tempo, esteja você viva ou morta, este relançamento foi para mim.. e para você!*

(Renata Santana)

sábado, 30 de janeiro de 2010

Sonente para mulheres num sábado a noite.

:



Maquiavel é maquiável.
.
.
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.
.
.
.
.
.
.
.
.
.
agora creia, saia e bata a porta da rua.




(Renata Santana)

quinta-feira, 28 de janeiro de 2010

12:00

Sob os olhos,
alho
óleo
amido
saudade,
e gordura vegetal...
meio-dia,
e nada pega gosto

ta tudo assim, ta tudo insosso.



(Renata Santana)

sexta-feira, 22 de janeiro de 2010

segunda-feira, 4 de janeiro de 2010

Revelando o Poema Oculto.

Pois ée. Estou dizendo a vocês, senhores:
Nada de começar janeiro já pagando o presente de amigo secreto que você comprou à crédito.
Ontem, dia 03 de janeiro,
o Coletivo de novos escritores Dremelgas Literárias, arranjou uma solução prático-criativa e realizou o "poema oculto"!
YA!
É o mesmo esquema:
pegue um papel,
leia o nome,
leve pra casa, e
volte no dia da coooooonfraternização com um poema escrito para aquela pessoa!

Surpresa: Eu nunca vi jeito mais gostoso de reconhecer um amigo do que escrever para/sobre ele.

E você ainda pode compartilhar seu presente com os outros!

Segue abaixo o poema oculto que escrevi para o queridíssimo Diogo Testa, e também o poema oculto que a queridíssima Sachiko Shinozaki escreveu para esta gata.
(Detalhe: saber escrever corretamente e sem pestanejar o nome da Sachiko já é um sinal de intimidade fraterna!)

Lucky and the Strike with diamond

(De Renata S. à Diogo T.)

Olha que cut cut Cult
Andando pela avenida onde o salto parafina.
Pára, fina, e
Acende logo o Lucky Strike, que tão logo a noite termina.
Termina em beijo
Em caso
Em amasso,
Amassa este cigarro
os meninos as meninas,
A massa,
O sucesso,
vaselina,
eu quero mais:
Eu quero brilho e a misancene do espetáculo,
Eu vou comer o teu rabo o teu ato
e poesia
Eu sugo essa tua misantropia e cuspo num copo de plástico,
Sou rato,
Dessa noite furta-cor
Amarelo no Derby Azul y incolor,
Em colosso roendo o osso da noite preta
E pobre

E Isso é Grotovski, meu bem.

Detesto a noite que vai, me Testa na noite que vem,
E não traz,
O sol pro meu tablado, que eu ando
Encharcado sem grana sem salto, e
Subo e rezo e durmo, sem aplauso

No meu apartamento quadrado.


_________________________________

Menina Suburbana

(De Sachiko S. à Renata S.)

Menina Suburbana
Que mora no templo do mundo
metropolitano sangue quente
Agitado como sua mente.

No seu tempo tem pó
Que tira como sopro
A poeira da vida não incomoda
O mundo gira a sua volta.

Sempre carente
Sempre apaixonada
Coração do seu tamanho
Todo amor é benvindo...

Nos fiteiros faz parada
No entando, não se incomoda
Portugal, Holanda, França
Seu caminho é sem limite.

Menina suburbana
Com pisca-alerta
sempre ligada
é uma criança muito esperta
Isso é o que ela é,
Ela é Renata Santana!

Dremelgas in fest: o seu carnaval fora de época.





(Renata Santana)

sexta-feira, 1 de janeiro de 2010

A Primeira Deca.

2010.
Gente, agora o século (e o milênio) já tem uma década!

Lembra quando a sua professora do primário dizia,
- então, os acontecimentos da primeira década deste século....
E isso parecia tão longínquo que, de alguma maneira, parecia não fazer parte da sua história?

Pois bem. Era tão longe que não nos alcançava.

Distante igual a Luzia de Drummond,
"nem a voz a alcançava, eram quilômetros de silêncio..."

Quilôoometros.
Agora, não mais.

Neste exato primeiro dia da primeira década do século XXI, nós estamos aqui e somos essa década.

Quando estivermos em meados do século 21, em algum livro de história (seja ele um kindle ou um livro impresso mesmo) os alunos vão folhear preguiçosos o capítulo (sim, porque os alunos vão ser sempre preguiçosos), e
olhando bem pra cara da gente, eu vc, vc aíi que se acha tanto,
vão dizer,
-eita, povinho estranho esse!

Não, senhoras,
não vamos estar de vestido longo, com goma nos babados, expressões facias discretas e ladeada por nossos 12 filhos (5 não vingaram) igualmente emgomados. Nada disso.
Senhores, vocês também não vão estar sisudos com seus bigodes agudos, e
deixando pesar sobre as sobrancelhas a guerra ou a tuberculose,
não, não.

Gente, seremos nós!
Os primeiros 10 de 100 anos.

E la estaremos,
modernos, líquidos, sorridentes em fotos digitais com a nossa imagem retocada por softwares de "aperfeiçoamento" que nos ajudam a crer que podemoss ser o que não somos, nós, sim, nós la, sorrindo em nossas poses de orkut, facebook, cheios de graça, e todas as pessoas públicas e personalidades também são lindas e irretocáveis, todos nós vestidos de verde militando para salvar o planeta, poderosos e com medo do fim do mundo em 2012,
todos nós montados com nossa pele de plástico que dura 2 milhões de anos para se deteriorar, sim,
nosso corpo sarado sarado, saudável pra viver 100 anos,
gente,
como somos lindos nas nossas fotos não-espontâneas, olha aqui, olha aqui, olha pra nós,
a gente que adora ser visto e podemos gastar horrores para sermos reconhecidos,
imortais, e
lindos.

Ainda assim,
os preguiçosos alunos de história em meados do século 21,
aprendendo sobre a primeira década do século 21,
eles , os próprios, bem blasé,
vão olhar pra nossa cara de começo de século e vão dizer,

- Eita, povinho estranho.




*(As árvores somos nozes. E nozes somos a primeira Deca).