segunda-feira, 1 de fevereiro de 2010

Re-contando os amores.

Senhores, morri!

Brincadeira,
mas quase morro mesmo! De felicidade, quando soube que o livro "Contos de amor rasgados" da Marina Colasanti, foi reeditado pela Editora Record!

Vou falar de novo,

A Editora Record acaaaaaaba de relançar "Contos de Amor Rasgados", isso isso isso!

Sabe aquele livro com o qual você tem relações amorosas? Pronto.

Este foi o livro que há 7 anos me deu um diagnóstico:

Eu, Renata, não sou louca.

Oi?

Sim, sim, sim, tá bom, eu sou um pouquiinho louca, sim, nhem pra vocês :P.

Mas,

até os 16 anos, eu acreditava que a minha literatura não era literatura.

Ou era, mas era preguiçosa.

Haja vista que eu gostava de escrever histórias, mas o ponto final-finalíssimo sempre vinha depois da quarta ou quinta linha.

Numa época da sua vida em que os professores de literatura fazem do José de Alencar o Best Seller da sala de aula, as nossas referências ainda são rasas e, eu confesso que aprendi muito mais com sebistas da Rua da Roda do que com as listas dos "mais pedidos" do vestibular.

O problema era lutar contra Perí, tranquilo e infalível (até hoje).

Pois bem, quando "Contos de amor rasgados" caiu na minha mão, num sebo e ao preço de 5 pila, eu li o primeiro conto e quis morrer!

A narrativa de Marina em Prosa-Poética construía um livro de 200 páginas recheado daquilo que eu conheci depois com o nome de mineconto. Havia contos com até 4 linhas!!

Eu não era louca, nem preguiçosa e escrevia minecontos.

Claro,

aos 16 anos você é louco, irresponsável, inconsequente, tarado, pisa muito na bola e tem preguiça crônica e sono de múmia.

But,

aprendi com esse livro que este diagóstico não se aplicava necessariamente ao fato de que eu gostava de contar um história em poucas linhas ao invés de seguir o padrão arcadista.

Pronto. Descoberto isso, dedada com gerêrê pra todo mundo.

Dane-se o Peloponeso!

Se tudo isto tivesse acontecido comigo hoje, eu já teria dado a dedada com gerêrê , mas quando o sujeito é adolescente, ele precisa de uma identificação. Um mártir, ou coisa assim.

Numa edição da Rocco de 1986 - o ano em que eu nasci, aliás hehe- e com uma capa simples e curiosa (sugestiva, eu diria),

eu não poderia deixar de reproduzir aqui uma outra "história" dentro da história do livro:

A dedicatória.

Algumas dedicatórias nos contam tanta coisa tanta coisa, que é como se histórias paralelas atravessassem o tempo, alí, dentro dos livros, arrastando-se pelos sebos e passando de mão em mão.

A dedicatória do meu exemplar é assinado por uma mulher à flor da pele chamada Ana.





Às vezes, me pego pensando,

"por onde andará, Ana?" "O que terá acontecido àquela paixão? será que durou somente mais umas duas idas ao motel, naquela hora do almoço, onde tudo é fuga e fogo,

a conta paga, os corpos entregues, o relógio, o segundo turno no trabalho, a volta, o sol, a saudade...

Ou não,

Ana, então, se casou com aquele homem cujo toque era acesso fácil para os seus túneis de pulso e impulso,
teriam casado e tido filhos e, hoje, o contato não é nada mais do que uma pensão alimentícia depositada no Banco do Brasil?".

Nunca vou saber.

Por isso, senhores,

O novo lançamento de "Contos de Amor Rasgados", na Livraria Cultura por 30 reais, é uma grande oportunidade de rever esta obra da Marina - sempre um pouco apagada dos holofotes literários, talvez até sempre na sombra do seu marido, o poeta Affonso Romano de Sant'anna - bem como também para inspirar e servir de presente e atestado para outras paixões, como a de Ana.


Ai!


*Segue abaixo exatamente o primeiro conto que li do livro, em pé, numa daquelas apertadas lojas do sebo, acho que foi a do Augusto, mas não importa.


Por Preço de Ocasião
(Marina Colasanti)
Comprou a esposa numa liquidação, pendurada que estava, junto com outras , no grande cabide circular. Suas posses não lhe permitiam adquirir lançamentos novos, modelos sofisticados. Contentou-se pois com essa, fim de estoque, mas preço de ocasião.
Em casa, porém, longe da agitação da loja - homem escolhendo mulher, homem pagando mulher, homem metendo mulher em saco pardo e levando às vezes mais de uma para aproveitar o bom negócio - percebeu que o estado da sua compra deixava a desejar.
"É claro", pensou reparando na sujeira dos punhos, no amarrotado da pele, nos tufos de cabelos que mal escondiam rasgões do couro cabeludo, "eles não iam liquidar coisa nova".
Conformado, deitou-a na cama pensando que ainda serviria para algum uso.
E, abrindo-lhe as pernas, despejou lá dentro, uma por uma, brancas bolinhas de naftalina.
.
*Ana, comigo há tanto tempo, esteja você viva ou morta, este relançamento foi para mim.. e para você!*

(Renata Santana)

2 comentários:

  1. O começo me lembrou Mário de Sá Carneiro: "Morri à mingua de excessos".
    Que amor quente esse de Ana, pela "pressa" me parece que acabou "cedo" assim como os minicontos de Marina...
    Me empresta bixa, o livro!! rsrsr

    Beijos

    ResponderExcluir
  2. Irei ler, mas antes Renata, o que é dedada de gerêrê???kkkkkkkkkk

    ResponderExcluir