quinta-feira, 27 de agosto de 2009

Insônia



Sem pregar os olhos.

Inquieta,
Sônia revirou-se na cama e furou os dedos com as velhas agulhas, as mesmas agulhas de toda juventude.

E então furou os olhos, as veias, o leite, os sulcos, toda a dor de cabeça e algumas manchas escuras da pele seca.

Descobriu fendas por onde passou preciosa e certeira a linha finíssima de seda azul.

E sorriu, e fez cócegas, e doeu, e chorou. Mas ela costurou toda dor.
Crivou seus tormentos e alinhavou, assim, com um nó bem forte, à saudade. Saudade a fiar.

No fim da noite, a cama molhada, se livrou daquela colcha de retalhos.

(e nem fez tanto frio)

Agarrou a si mesma, e finalmente,
Sozinha,
Ela dormiu.

Em Sônia,

faltava descobrir-se.


(Renata Santana)

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