quarta-feira, 3 de fevereiro de 2010

Josefa, para onde?

Oito horas da manhã e o sol já está pentelhando. Cedo. Muito cedo.
Wake up, silly girl...
han? oito horas da manhã? tarde. muito tarde.
Rela, mazela!
Ohhh... ajuda pensar que sou uma professora de balé clássico, rica, blasé, tenho carro, trabalho poucas horas, largo cedo e ainda em tempo de pegar a mostra de filmes do cinema expressionista alemão. lazy lazy laaazy, Jane. Preparo o café levitando pela casa e tudo na cozinha obedece a dança dos meus delicados gestossshshsshmmmmhmmhm....... DEUS!
Vou perder a hora! tanta coisa tanta coisa!

A água não ferve, o ovo não frita, a pia não pinga. E quem escreveu o contrário vai me levar uma bifa.
(É, Paulo, até você!).

-deus, em sua infinita misericórdia, protegei as garotas que comem em pé.
e, principalmente, às que comem em pé e calçando às sandálias.

Dia dia dia. porque não confessa que me odeia. não vai com minhas fuças. O ônibus queima a parada e eu ando tão sensível que os olhos lacrimejam. O óculos escuro esconde. esconde bem.
No escuro é sempre mais fácil chorar.

Calor. Um verão sem praia ou piscina (ok. mangueirão também serve) não é verão. É inferno.
Ônibus. os olhos procuram o lado da sombra. dark? nada. somente luz. A mulher na minha frente fala do rim do cunhado. não fala. disserta. eu e o rim de Ronaldo. íntimos às nove horas da manhã.
Arhh, quer saber? danem-se os orientais.
Os orientais e este papo de estar 100% presente no corpo, no presente. Concentração no que acontece ao seu redor. Foda-se. Vou ler.
Arranco o livro da bolsa, a minha cartola. Sol nas linhas e nas entrelinhas. Primeiro catabiu e o livro voa da minha mão e se arrebenta no chão ao lado de um jornal(sic) da Universal. Urfs.
Não podia ter sido o rim do Ronaldo? mas, nãao..
Apanho o livro e ele me fita desapontado.
- Ei, não precisa me olhar desse jeito, meu dia também não está legal, ok?

Parada, desce. Desce, porra. (err.. O que aconteceu à bailarina?)

Passe-fácil. Ah, esqueci, agora é VEM. Eu prefiro dizer Bilhete Eletrônico. Tem menos a cara de estudante do GP e caneta com seu nome a 1 Real.
Bem, tudo faz fila do mesmo jeito. amontoado. As pessoas adoram se amontoar.
Crianças fazem montinho umas nas outras. Adultos se amontoam ouvindo 0 jogo do Sport.
"O brasileiro é gregário por natureza" (esqueci o autor e não estou a fim de procurar)

Praça Maciel Pinheiro. Futum. Um homem com um envelope de currículos escarra do meu lado e olha pro relógio.
Preciso passar na casa da costureira pra provar a fantasia. Ahh, sim, as fantasias de carnaval.... Isso anima um pouco. Oh, sim.
"A gente trabalha o ano inteiro
Por um momento de sonho
Pra fazer a fantasia
De rei ou de pirata ou jardineira
e tudo se acabar na quarta feiraTristeza não tem fim
Felicidade sim"

Trabalha o dia inteiro e leva muito sol no quengo, pensei.

A costureira não atende. Dei a volta na praça em vão. Quanto tempo perdi? Vou seguir. Vou seguir o coelho. Eu devo ser mais neurótica do que ele e a Alice juntos.
Mas também se eu dormir no ponto a tartaruga me passa. aí vai ser muita humilhação.
Passo pela esquina do teatro. ai, saudade de sentar no hall do teatro do Parque e esperar acontecer, tipo assim, cara, alguma coisa legaaaal.
Volto, vou entrar e pegar a programação do mês. Volto, em nome dos velhos tempos, volto.
Dou de cara com a Penelope Cruz. E eu pegaria lindo a Penelope Cruz. Abrazos Rotos. Saco! Como eu ainda não vi esse filme? me odeio. Em outubro tava em cartaz num cinema de São Paulo e me animei para assistir com Ana. Lembro-me bem. Na volta a gente assiste, dissemos. Mas logo depois me bateu mó vontade de assisti-lo em Recife, comendo pipoca, e de mãos dadas com uma persona..
..nossas mãos peguentas da pipoca doce.
Mas voltei à Recife faz 3 meses e nem vimos nem nada. bluft.
Odeio meu lado romântico. Saí do teatro do Parque. Calor. Peguei uma agenda e anotei:
Matarás e roubarás, pero não serás mas romântica (Tá ligada, doida?)
Calor. Apois tá. Essa semana, se ainda der, eu assisto.

Cristo, pai. Os ingressos do baile!
Avenida Rui Barbosa. Andar da Conselheiro Rosa e Silva à Rui Barbosa. Chiei.
Deus, Preciso comer. muita náusea.
Bandeijão bandeijão bandeijão, cadê o bandeijão? tenho que economizar pro dízimo à Momo.
"A gente trabalha o ano inteiroPor um momento de sonho"
lálaálálálálálálálálálálálálálálálálálálálálálá.....
Cadê os porrra do bandeijão?!

-han? como? duas opções de carne? ok. ok. Ei, Preciso lavar a mão, onde tem um... han? não tem água? sei.
ok. ok.

-Deus, em sua secular misericórdia, protegei às garotas que almoçam sem lavar as mãos.
Te devo mais essa! amém.

A Avenida Rui Barbosa não existe para quem desce na Avenida Rosa e Silva.
Tudo é luz. nada se vê. nada se sabe. mistério e calor. a franja derrete sob a testa.
O palhacinho do Detran faz uma piada e buzina na minha cara. Chééééémmmmm!!
-viado.

Puf puf puf, museu do estado, quatro pontos, gata. Continue a nadar.
puf puf,
Posto de Gasolina. Petrobrás. SJ.
-SJ?
-SJ.
-Duas. meia. débito.
-Tks, princesa...

(Princesa?)
Deus, não precisava. eu não pedi cantadinhas de cafuçu... Tá vendo que o Senhor não me entende? corte.

UFSss, os dois ingressos!! Gata wins! Pontuação arrebatadora!
well, e
fazer o caminho de volta...

A Avenida Conselheiro Rosa e Silva não existe para quem desce da Rui Barbosa.Tudo é luz. nada se vê. nada se sabe. mistério e calor. a franja derrete sob a testa....

Trabalho. Caixa de email. Mensagens. Prazos. exclui esse, marca esse, esse exclui definitivamente, esse aqui depois, esse não faço ideia, Em Sorocaba os diplomados conseguem diploma profissional, e
han?
-Hi! books books books, American English file one ou two? Yes, na SBS, welcome! Jogo? não temos esse jogo! Hi! Welcome to the library, guy! Yes, Library and Multimedia Center!
O roteiro? bem eu, haan, telefone toca. Aluno. aluno perdido. pai, mão, vó, responsável, não, este ser livro antigo, nós ter traduções mais recentes, han? quem, eu? ya, Oscar Wilde, ya, mas este ser adulto, no no no.... não pode. não. nãaao pode, tá, xau. -Deus, preciso de um café bem forte.
Telefone, yes yes, mim ser Renata, yes. what, meu rei?

-Deus, cancela, preciso de um homem.
Faz assim, manda os dois ao mesmo tempo.

Do you love me?
so so. (deus é evasivo...)

Saída.
Me olho no espelho e a primeira palavra que me vem à cabeça é: espantalho elétrico.
as seguintes não são tão animadoras,
vencida, farrapo, bagaço, olheiras, sobrancelha assanhada.

Porque não nasci na Russia numa família de bailarinos?

Pensa nos sonhos, se agarra aos projetos, não se deixe vencerrr.
Mas não penso,
somente penso,
no porquê de corremos tanto...

II round,
a volta à costureira.

A noite me assopra os cabelos aos franganhos e fiapos, eu também me assopro e assopro pro vento. Pff...
Fico assoprando dentro da hora marcada. Pfff...
Ele chega e me beija, não me beije. estou podre, alerto.
Ele me abraça e volta a beijar. dessa vez com mais cautela..

De volta ao contorno da praça, o escarro do homem fritou na calçada, mas a costureira chegou.
Agulhas e provas,
provas e prazos
prazos e,
fome.. muita fome...

(Deus me concede o homem e substitui o café por uma proposta de vinho tinto à dois)

Proposta sedutora, mas
tarde demais, Ó, pai..
God, me faça dizer não. Preciso de casa, mais trabalhos, mas prazos at home.

-nao. hoje nao. hmmm

(Em seguida, anotei também: Pior que ser romântica, é ser uma moça responsável!)


Mais ônibus.
dois.
Todos no coletivo têm cara de desilusão.
Mas, claro, as dos que estão em pé consegue ser ainda pior...

Eu estava em pé.

Mais uma vez a pergunta: porque corremos tanto? O quê vale tanto à pena?

Ônibus linha de bairro.
conhecidos sobem e descem sem parar. Alguns amigos de outrora me perguntam,
-Ei, o que tens feito?
- fmfphfhpfmhfh

- E aí tás bem?
- hurrpffffghghghg

- Me conta as novidades?
- ...............................................................................



Casa. Casa. Casa. Casa. Casa.
e Ninguém em casa...
Advinha quem veio para o jantar? Eu. somente eu.
Jantar Lavosier,
nada se perde nada se cria... Ok. ok.
tomate, pasta de alho, ("Essas tolas acham que o alho empesta" ) dizia Dona Flor, defendendo o tempero. Preciso de tempero. bastante.
Panela no fogo.
Chuveiro tirando o sal do corpo. Destempero. bastante.

-Deus, em sua escalafobética misericórdia, protegei as garotas que lavam, pacientemente, a calcinha embaixo do chuveiro...

O cabelo pinga pelo chão, a camisola é fina e se ensopa, a brisa entra, nuca, frescor, muito frescor, a comida quente, a música, ya, Cole Porter for a good girl. ya, o molho escorre, e o piano o piano o piano também se derrama...
Oh, Niina..
"my baby just care for meee.."

who? who just care for me?

- me.


Sozinha cuidando tocando em frente, mas,
Porque, Para onde, Josefa?
A música, o prazer, o descanso, a mansidão, o lar, nada mais importa.


O que vale à pena nessa vida sempre foi a furtiva hora do recreio.



(Renata Santana)





Adendo:
Lembro do Cebolinha, num VHS dos anos 90. Toda vez em que dizia "Ahh, que dia malavilhoooso", não dizia. Simplesmente não conseguia terminar a frase. Algo sempre acontecia. Vazos caiam em sua cabeça. Havia uma boca de lobo na rua, cachorros latiam, e outros empecílhos... Na vida real não é tão diferente.

3 comentários:

  1. Bixa, faltou o detalhe da ligação. Rá!
    Adorei... Me lembrou Requiem For a Dream no sentido frenetico da sequencia repetitiva... Essa rotina, ai ai...
    Beijos

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  2. Adorei sua crônica/conto, com um possível tom autobiográfico.
    Você possui um estilo descoladíssimo, gostoso de se ler.
    Inteligência e beleza: união perfeita de forças!

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  3. ... eu viajo !
    Tô de volta lendo td !!!

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