segunda-feira, 11 de fevereiro de 2013

Tia Célia e a fantasia filosófica (uma crônica de carnaval)

Mamãe não era muito carnavalesca. No feriado momesco, todos sabem, ela preferia passar os 4 dias hibernando e descansando da sua maratona de trabalho. Pois bem, sendo assim, nunca nunquinha que ela me comprou fantasia e me levou, toda paramentada, para frevar no carnaval. Pior, até completar 10 anos eu, nascida na cidade do carnaval, nunca tinha ido a um baile sequer. Pra mim, carnaval eram as transmissões na TV, um banho de bomba d'água com ovo podre pela Vila Cardeal e, claro, as famigradas "katraias" de Luizinho pelo Inocoop... (esse último, sem comentários) Bom, eis que fui pela primeira vez a Olinda durante o carnaval com exatos 10 anos de idade. Não, não foi com mamãe. Os integrantes da folia eram: Dotão, Juju (minha dupla), papai, zezinho, césar (magro..) e, claro, tia célia (a foliã-mor)... Mamãe deu tanta recomendação que nem me deixaram chegar perto da muvuca. Ficamos muito bem sentados num bar olhando o passa-passa de gente fantasiada. Eu tomava minha coca-cola atenta e encantada: pq eu nunca tinha usado uma fantasia? La pelas tantas, indaguei lamentosa na mesa expressando a minha vontade de usar também qualquer balangandan... e tia Célia, a foliã-mor, de pronto, se ofereceu e com a voz já meio "poarra", perguntou: - vc quer que eu faça uma pintura no seu rosto? (hirc!) - queeeeeero!! respondi empolgadíssima, na ideia de que ia ganhar uma linda sombrinha de frevo multicolor na bochecha adornando o sorriso pueril. Ela então enfiou a mão na bolsa e eu já esperava um conjunto de tintas, quando ela resgatou de lá de dentro um batom vermelho da Avon. Esmoreci, mas dei a bochecha à tapa, ela então segurou meu queixo, espichou o olho e zás, mandou ver. Em 2 segundos estava pronta a pintura Celiana. Ela coçou o nariz para baixo, deu um gole na cerveja que estava esquentando e me deu em seguida um espelhinho. O reflexo me mostrava uma lágrima em uma bochecha e uma interrogação, assim: "?" em outra... contemplei o meu reflexo e, sem entender batatinhas do que o meu rosto dizia, interpelei a minha artista: - Ôoo tia célia.. o que é isso...? Ela me olhou, coçou mais uma vez o nariz para baixo e mandou: -Essa é uma fantasia filosófica.. de um lado vc constata "chorando" e do outro se pergunta "porque?" ... Apenas respondi um comprido "aaaaaaaaaahhh ta", me chequei mais uma vez no espelhinho e fiquei lá, pensativa, derretendo no calor de Olinda, toda besuntada de batom vermelho, mas profundamente filosófica. (RSantana, 11/02/13 - segunda feira de carnaval)

Um comentário:

  1. adorei, apesar de quase ter ficado cego lendo branco no preto =]] crônica furtada para o planeta vermelho.

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