quinta-feira, 27 de agosto de 2009

Insônia



Sem pregar os olhos.

Inquieta,
Sônia revirou-se na cama e furou os dedos com as velhas agulhas, as mesmas agulhas de toda juventude.

E então furou os olhos, as veias, o leite, os sulcos, toda a dor de cabeça e algumas manchas escuras da pele seca.

Descobriu fendas por onde passou preciosa e certeira a linha finíssima de seda azul.

E sorriu, e fez cócegas, e doeu, e chorou. Mas ela costurou toda dor.
Crivou seus tormentos e alinhavou, assim, com um nó bem forte, à saudade. Saudade a fiar.

No fim da noite, a cama molhada, se livrou daquela colcha de retalhos.

(e nem fez tanto frio)

Agarrou a si mesma, e finalmente,
Sozinha,
Ela dormiu.

Em Sônia,

faltava descobrir-se.


(Renata Santana)

terça-feira, 25 de agosto de 2009

Foi :) pra vc?

...
Os românticos mandavam flores.
Os modernos telefonavam.
Os pós-modernos deixam scrap no orkut...


Você tem 112 caracteres pra falar da sua paixão?!

(Vence quem melhor engolir os espaços)
-Com emoticons, ou não.
(Renata Santana)

sábado, 22 de agosto de 2009

Inocência


Ainda muito criança, na biblioteca do colégio, eu botei as mãos pela primeira vez em um dicionário de inglês.
Pura curiosidade. Muitos termos além do blue.
A primeira palavra que procurei a tradução foi bunda.
E a segunda,

cu.

Depois saí da biblioteca demente e astuta, saltitando com um livrinho cor de pastel da Ruth Rocha debaixo do braço.

Foi assim.

terça-feira, 18 de agosto de 2009

Suzana era de ferro, o absorvente, não!


Sabe qual é a coisa mais ridícula em uma pessoa cair no chão?
A pessoa ta ali, perfeita e harmoniosa com o seu estado natural de equilíbrio. Pés no chão, gravidade, pé firme, andando, sandália bonita, “cheia de si” e de repente, perde-se toda essa relação com o equilíbrio e tomba no chão.
-Como? Eu tava andando normal, nem tropecei, quando vi já tava no chão....

Pois é. Temos que admitir que é muito “confortável” essa nossa necessidade de equilíbrio.
(Quem não ajeita um quadro torto na parede? Todo mundo ajeita, centraliza!).

A coisa mais ridícula em uma pessoa cair no chão é o fato dela sempre acreditar que nunca vai cair no chão. E quando esta ainda se encontra estatelada demonstra que,
Ops!
cair,
é hu-mi-lhan-te.
Claro. E isso tudo porque não admitimos nem aceitamos o desconforto do desequilíbrio.
Sim, o desequilíbrio parece incomodar, cutucar, irritar. Nos tira da segurança, da ordem, do aninho confortável do equilíbrio.

(Isso tudo pra dizer que situações inesperadas podem fugir em dois segundos com todo o seu senso de ordem).

É justamente nos momentos em que você está se sentindo mais segura, onde você está se levando finalmente a sério, que a vida vai e apronta uma marmelada com a sua cara.

(...)

Eu,
a protagonista desta história,
assistia aula na universidade hoje pela manhã,
muito adulta, debatendo e polemizando,
muito bem resolvida, muito experiente,
muito moderna, muito articulada,
muito falando de livros com o professor
,
quando de repente,
estava acuada na quadra de ginástica,
com vontade de chorar,
amarela,
naquela manhã na aula de educação física
na 5ª série,
em que o fluxo da minha menstruação veio danado pra catende com vontade de chegar.
(e vazou como um rio vermelho sem margens na minha bermudinha azul).
,
Mais uma vez o desequilíbrio.
Tudo bem que na universidade já não há m ais aquele tabu.
Mas a sensação de ter uma mancha imeeeeensa e vermeeeeeelha, bem à vista, na sua calça jeans é e sempre será humilhante!
,

Eu levantei e sentei
,
11h, a cadeira suja, a calça suja e uma reunião de trabalho ao meio-dia.
,
-Alguém tem um casaco?
(precisa dizer pra quê um casaco? Ok. Ta calor...)
,
-Ei, alguém tem um casaco pra eu amarrar aqui na cintura?
(precisa dizer mais? Uma garota amarela querendo um casaco pra amarrar na cintura?)
,
-Gente, pelo amordedeus, minha menstruação vazou na calça, eu preciso ir embora alguém tem um casaco???
(-eiiiiita, tadiiiiiiiinha, olha, fulana tem um lá na frente!!!)
,
Fulana faz uma cara de poucos amigos e solta um,
-tá!

(bixo, que mulher não é solidária a outra num momento desses? Não é só emprestar o casaco. É também dizer,
- aiii, olhe, vá pra casa com ele, não se preocupe, vai dar tudo certo, ai, vai, não fica assim, acontece, ta com cólica? Quer conversar? Assino teu nome na ata?)

Não, senhores, eu não tive direito a fazer manha nem a colo solidário.
O que há com essas mulheres?

Com o casaco rosa pink (em nada combinando com a minha roupa...) amarrado na minha cintura fui ao banheiro e só não chamei o absorvente vazado de arroz doce.
Depois de rodarrrr atrás de um rolinho de papel higiênico (sim, porque papel higiênico em universidade pública e água em bebedouro são coisas raras!), Eu saí do banheiro (ou seria fraudário?) devidamente “trocada” e 10% mais segura.

No ônibus, ainda fazendo cara de segura, me esforçando ao máximo, eis que ao tentar alcançar a carteira um absorvente suicida se joga aos pés do cobrador...
O cobrador olhou pra mim,
Eu olhei pro cobrador,
(aqueles dois segundos filhinhos da puta em que o mundo parece congelar)

O que você vai fazer se não manter a espontaneidade?
,
Risinho no canto da boca,
,
Aquele famoso:
-eita!
,
(Afinal, qual é o problema? Todos os dias eu estou com a calça manchada de sangue na bunda e absorventes suicidas saltam como pipoca na panela da minha bolsa e caem no chão em pleno CDU...).

É lógico que eu não ia deixar aquele rastro do meu desmantelo ali. Abaixei cheia de charme (ahh, o teatro...) e soquei o sacana de volta na bolsa.
Na minha cabeça,
- você é um Always muito mau, viu?! mau mau e mau!

Ao sentar,
Me deparei com outro grande dilema:
Se correr o bicho pega se ficar o bicho come (mas não foi esse), foi,
-Se a calça encostar na cadeira vai sujar tudo de sangue, se eu sentar em cima do casaco vou sujar a roupa da menina!

(God! Porque eu saí de casa hoje?)

Respirei.
Procurei uma cadeira afastada,
uma daquelas lá atrás onde você sofre todos os “catabius” que tem direito, e me sentei isolada e humilhada. Optei claro, por sujar a cadeira do ônibus da CRT.

Mas o Cão, que não é besta, atenta.
Aliás, o Cão é besta, né? É besta-fera. Então deve ser por isso que ele é mestre em atentar e fazer dos outros igualmente besta.
Mal sentei,
Avistei da catraca o homem mais bonito que eu já vi entrar no CDU!
Lembrava até aquele deputado estadual (começa com a letra R e termina com a letra O...hehe) que quando estagiei na Alepe,
ai!,
eu costumava comentar com as outras estagiárias sobre a sua beleza que estava menos no rosto e mais na postura!
(um homem com postura vale mais do que 10 simplesmente bonitões).
Lembrem-se,
Quasímodo era feio porque era corcunda!
Pois bem,
Em vão foi o esforço do meu pensamento para que ele sentasse bem distante de mim.
(pelo menos naquela manhã),
Mas como tudo estava mesmo obedecendo à ordem inversa, nem me espantei quando o carinha robusto e cheio de porte sentou justamente ao meu lado!

(Como assim, Bial?, E agora, José?)

Sou boba mesmo. A idéia de que quando eu me levantasse ele iria ver a cadeira toda manchada daquele sangue vivo me deixou desesperada!
Se a mancha não estivesse vermelha, no mínimo estaria “cor de burro quando foge” e,
ele poderia supor que aquilo ao invés de sangue era merda e eu,
estava toda cagada.
-Não, não, nãooooooooooo.

Sutilmente,
Abri a pasta, trá-lá-lá, arranquei uma folha do caderno, trá-lá-lá, fui disfarçando, ajeitando a franja, e da forma mais gatuna possível, durante um catabiu bem oportuno passei a folhinha pra debaixo da bunda.
Ufa.
Fiquei com aquela cara de puta-santa misturada com gato que engoliu canário.
Pensando, sinceramente pensando,
Como somos patéticos quando nos julgamos muito sérios e muito acima do bem e do mal.
Com a cabeça voltada para todos os compromissos, sempre pensando em resolver tudo pra ontem, em organizar, em deixar tudo pronto, em sermos reconhecidos, focando nossos pensamentos para o cotidiano útil, para formas inteligentes de aproveitarmos nosso tempo, em distribuir de maneira eficiente as atividades mais híbridas que fazemos e ainda não esquecer de tomar a porra da Vitamina C depois do almoço.
De repente,
A sua cabeça está 100% voltada para aquela folhinha cachorra do seu caderno barato que está cumprindo a inesperada função de não deixar rastros do desmantelo sanguíneo que está sendo o seu fluxo menstrual, ele que resolveu não somente burlar a data certa e vir mais forte que de costume, mas arrasar com a cara do absorvente e fazer de você a pateta do dia!
Que feliz, né?!
...
Com a cara mais pra fora da janela do que deveria, tentando sentir um ventinho na cara de ogra Fiona que eu deveria estar, me lembrei de uma amiga queridíssima que até aos 15 anos não podia usar absorvente.

Ela usava paninho.

Imagina a criatura ir ao colégio com um pano (sem direito a abas) preso à calcinha?
Aquele mondrongo na frente do short sinalizando tudo e mais um pouco.
E o estado de insegurança?
Sim, porque se vazasse ela não poderia simplesmente descartar o pano (uma vez que todos os panos eram devidamente lavados e re-utilizados por ela!)
Claro que tinha dedo de mãe nessa história, né?
Acontece que a mãe dessa menina não a deixava usar o absorvente porque não queria que a filha fosse até o mercadinho comprar o produto. Afinal, a vizinhança toda ia descobrir que a menina já era “moçinha”. E assim, os gaviões do pedaço já iam ficar de olho nela.
Nesse momento eu até ri, pensando, que logo essa era a melhor parte em se tornar “mocinha”.

Um pouco antes da minha parada, o bonitão robusto, com os cabelos molhados e barba recém feitíssima desceu. Foi bom. Até porque eu já estava zonza com o cheiro do perfume dele. Irritante de forte. E eu estava sensível. Argh.

Quando cheguei em casa, muito aliviada (porém, atrasada) cumpri toda a sessão higiene e saí correndo nova, limpa e cheirosa pra tal reunião ao 12h:00 (e que na verdade eu cheguei de 12h:40, mas com a justificativa acatada por todos, obrigada!).

Fim da reunião. Fim das obrigações diurnas. Um sol lindo, uma tarde linda no Bairro do Recife Antigo e a inesperada notícia de que o escritor pernambucano Raimundo Carrero estaria ministrando uma de suas oficinas sobre a construção da narrativa, gratuitamente, no auditório da Livraria Cultura, no mesmo bairro.
Claro, eu e mais 4 amigos fomos assistir esta aula.

Raimundo Carrero nos falava sobre algumas técnicas na construção da ficção e,
entre elas,
a presença do chamado “Eu - alter ego” . Segundo Carrero, o alter ego é uma forma do autor contar/revelar as verdades dele, mas usando um nome diferente para o personagem.
Quando o autor revela a sua história, seus segredos, assinando com seu próprio nome ele está usando o chamado Eu - confessional, mas,
Se usar um outro nome qualquer que não o seu,
Se trata do Eu-alter ego.
Pois bem.
Em seguida, Carrero nos pediu para, em cinco minutos, escrever em cinco linhas uma história usando o Eu - alter ego.
(reiterando: aconteceu com o autor, mas ele dá outro nome ao personagem)

Num dia como esse eu tinha material de sobra, né?
Fim dos cinco minutos e surgem às cinco horas de penúria vividas por Suzana, em cinco linhas – lidas por mim em voz alta para aquele auditório lotado:


“Dona dos seus próprios passos, das horas, dos semáforos. Absoluta e segura com a força dos seus vinte e poucos anos, Suzana de repente, voltou a 5ª série. Recuada na universidade como um bichinho sem graça, escondendo a mancha vermelha que ousou atravessar a calça jeans. Suzana era de ferro. O absorvente, não.”

Foi aprovado.
E eu fiquei muito contente, mas,
Achando uma coisa, no mínimo, estranha:

Eu corri pra esconder isso durante toda a manhã e além de revelar (através do alter ego) para aquela platéia de escritores, estou levantando bandeira aqui no blog também.

Estou muito confortável aqui na minha cadeira relatando tudo sem vergonha nenhuma.

Arrá!,
Meu equilíbrio foi devolvido!
Por isso, eu estou muito confortável. Saí do caos e voltei à sensação de ordem.
Nós e a nossa eterna relação com o equilíbrio...
Não tem ninguém olhando pra minha calça, eu não estou preocupada com folhinhas cachorras na cadeira, com o casaco rosa pink, com absorventes suicidas ou a cara do cobrador...

No meio da tarde, falando sobre Suzana,
(construindo Suzana pra falar de mim),
O equilíbrio voltou macio e percebi o quanto é bom não ser de ferro.
Ou não se preocupar tanto em ser de ferro. Porque quando você perde o seu chão duro e seguro e vai com a cara no chão,
fica mais fácil pra se perdoar!

-Suzana,
Não queira ser de ferro,
Deixe isso para as coisas insolúveis, chatas, industriais, artificiais (e ainda assim fuleiras),
como os absorventes femininos.


Renata Santana

segunda-feira, 17 de agosto de 2009

Difícil...

Difícil, hein?
Aonde eu penso que vou deixando mofar um post aqui há mais de 10 dias? Confesso que ta sendo bem difícil tocar a minha vida real e ainda sentar na frente do computador para postar no blog. Os amigos já estão até puxando a minha orelha tal qual eu avisei.
Nem comecei e já quero avacalhar. Nem créditos pra avacalhar eu tenho, ainda...

Acontece que este mês de agosto já entrou (como eu esperava...) com tudo. Bombante. Me arrastando para lá e para cá em mil atribuições sem intervalos para preguiçinhas espertas.
Isso é ótimo! Pique é comigo mesmo!
E preguiçinha também...
Por isso, aquele horário clássico para escrever que tem o nome híbrido de “tarde da noite” (é tarde ou é noite?) foi devidamente preenchido com meu soninho. nham...

Dentro dessa minha famigerada meta de me tornar uma mulher organizada, tive até a pachorra de formular uma planilha com os horários das atividades. Nela, os itens
“atualizar/checar a vida virtual”, bem como, “escrever, ler, transcrever dos rascunhos,” aparecem ambos após às 23h.

A intenção era alimentar o blog, dar atenção a outros blogs, aos amigos orkuteiros, sites queridos. E isso com uma margem de tempo para o espaço gasto na trilha do hipertexto e todos os sem-números de links que se vai entrando.
(E olhe que neste item eu nem inclui “checar email” porque esta atividade é tão 24h que ela é um item atemporal e vitalício!)

Para escrever, claro, eu não me impus horários. Escrever eu escrevo escrevo escrevo...
Mas coloquei horários, sim, para trabalhar esta produção.
E é assim, é?
Nasce na hora que quiser e fica por aí zanzando? Nãooooooo, minha filha....
Horário pós 23h: sai tudo de suas plataformas langanhosas beira de papel da estrela e vai tudo ficar biito e cheiroso no computador.

(Até aí aplausos pra mim.
Mas na prática é tapa aqui descobre ali).

Este horário, como eu já disse, vem sendo gradativamente preenchido com meu soninho gostoso (e fudido de cansado...). Aí a vida virtual já começa a cobrar e fazer barraco na sua vida real, enquanto a minha bolsa outrora limpa e “só com o essencial” vai se enchendo novamente dos amigos “papeizinhos avulsos com letras doidas”. A vida vira de novo aquela confusão que na hora do troco você quase entrega um poema ao cobrador ao invés dos dez centavos...

Deu né?
Deu pra ver que eu estou tentando. Eu juro que estou. É claro que nos dias de menos cansaço eu me dedicarei menos a Morfeu (ou é ele quem se dedica a nós?) e cumprirei os horários com suas respectivas atividades.
Afinal, eu ouvi dizer que blogueiro não dorme. Eu durmo. Afinal, sou chic, moderna e tenho planilha com horário estabelecido para este item.
(Planilha de Excel pra hora de dormir? E pra sonhar, também, mulher moderna?)

A que ponto chegamos?

Renata Santana.

quarta-feira, 5 de agosto de 2009

Tudo aquilo de que me despeço, sempre me despedaça.



(Ou ensaio sobre o desapego..)



"Tanta coisa

entre os dedos

e s c o r r e

e
sem significado,

vaga.

..não fosse o meu desespero diante da sutil partida
dos morangos mofados, ou
dos cílios que caem de madrugada".

.....


Sim, senhores.
Eu estou praticando o desapego.
E isso não é porque está passando uma novela "da cultura espiritualizada" arebaba no horário nobre. Sempre me empolga quando alguém diz:


- precisamos ser mais desapegaaaaados, rapaz. Os orientais é que tão certos!!



Mas depois de assentir com a cabeça e dizer prontamente,
- Num éeee...
..volto-me atentamente para o meu "espírito ocidental" e concluo que,


tá,


mas eu sofro de um outro tipo de materialismo. Não é raro, eu já conheci uma porção de gente assim!
Sempre fui visitar aquelas casas de brechó no centro da cidade e me deparava com um monte de gente que tinha mó cara desta minha "síndrome".


Certo dia até um senhor gordo, de suspensório, e com a pontinha do bigode arrebitada eu avistei..
Parecia um marechal daqueles dos livros de história (se não fosse a pastinha de funcionário público..). Tomamos um deliciosissimo licor de jenipapo servido pelo dono do estabelecimento e comentamos o charme de uma madeira inglesa. Dei mais dois giros e quando percebi, ele já tinha ido..
Pois bem. Apesar de não me vestir de maneira alegórica- como o nosso amigo marechal - sou facilmente seduzida pelo vestígios do passado.


E além disso,


dou trabalho pra me desfazer das coisas.
É como se desse para conviver material e harmonicamente com o passado.


Não crio muito caso em perder o celular, a bolsa, a carteira com todos os cartões (como se fossem muitos..rsrs), mas venha me dizer que sumiu aquele saco plástico cheio de provas da segunda série!!


er..



bom, aí após uma senhora reforma esse mês aqui em casa,


e



a minha meta de ser de agora em diante -mais do que nunca- uma mulher organizada!



Eu:


Desentulhei tudo, ponderei, dividi tudo em seus significados práticos ("funcional", no discurso das empresas modernas), sentimentais e necessariamente nostálgicos. Tudo bem. Esta terceira categoria é uma autofalácia para poder, dentro dela, sair jogando aquilo que estava difícil de se desfazer.. hehe,
mas aí eu fui mais esperta e subdividi a categoria em "absurdamente necessário para nostalgias - mostrar para filhos e netos-". Pronto. Aí ficou mais fácil.



Chega de bagunça e um sem número de velharias "insocáveis"!


Foi difícil, afinal, eu desconfio que essa síndrome é mais do que congênita, é hereditária.



Posso ter culpa no cartório, mas nasci e cresci numa família tão igualmente desligada no avançar do tempo que é comum encontrar nas minhas fotografias de "matuta" ou seja, no período junino, a decoração da casa repleta de enfeites natalinos.


(...)


Não é pra rir, mas



logo nas primeras caixas abertas durante a limpeza encontrei um jornal com um listão de vestibular, guardando o nome da minha tia (circulado de caneta Bic), aprovada em serviço social pra UFPE..

Hoje ela tem 6o anos e trabalha no INSS de São Paulo..


(...)


Entre cadernos escolares, agenda com o nome de todos os paquerinhas do colégio,



fichas da faculdade (da minha, dos amigos e também as de todos daqui de casa, multiplique!),


agenda telefônica que sequer tinha números com o "3" na frente,


fitas k7 arranhada e,


fitas vhs (vermelhinha "Basf", com todos os filmes e clips pela metade..),


fantasias de carnaval (e o tecido original também..)


e até,


a saia que eu usei no meu aniversário de 1 ano (...)


Dica: Faça a pergunta "pra quê isso?" e você será muito mais feliz!


(Já estou me sentindo dando consultorias por aí.)


Mas devo confessar,


de tudo, o que doeu mais...


foi esta outrora elegante vitrola da Polyvox. Segundo meu pai, ela era o "must" do momento,

De acordo com a minha mãe, ela era "a bila" da técnologia.


Meu primeiro CD eu ganhei aos 8 anos, mas nunca deixei de ouvir o "bolachão" e, esta vitrola ainda deu caldo e me possibilitou isso até os meus 16.. quando ela já não aguentou mais e saiu despencando em pedacinhos (a agulha foi a primeira..). Segundo a maioria consultada, era sem concerto.

Aí eu mantive a danada socada no meu quarto até ontem. Mas agora chegou seu dia..(Epa! só ela, dos vinis eu não me desfaço, aí é suicídio!!)


Outra peça clássica é este piano. Desafinado (todo fudido mesmo..), ele ainda não foi dispensado, mas espera a reforma acabar definitvamente para encontrar o seu destino.


ele sempre encabeçava a lista de duas categorias, "sentimentais" e "necessariamente nostálgicos". Mas agora ele se lascou de verde e amarelo (ou marrom imbuia descascado).


Na minha cabeça foi bem complicado porque devido ao tempo eu já o considerava parte da família. Agora eu o vejo mais como uma coisa morta que precisa descansar..

-Confesso que estou sentindo uma leveza bem maior. Sim, eu ainda sou uma saudosista incorrigível. Mas hoje há outras (e diversas) formas de agrupamento da informação, outras plataformas, essa vida ta um looping, ela me pede passagem e eu preciso estar disponível!


Além do mais,

pra quê serve uma revista com anúncios de ovos de páscoa de 1997?



(Renata Santana)